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educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

Docentes Especializados Marginalizados

Como foi possível que a actual equipa ministerial da educação de um Governo - que se diz PS, ainda por cima - tenha conseguido  "correr" com os docentes mais experientes (por isso, mais próximos da reforma) da educação especial/apoios educativos perante o silêncio quase generalizado de todos os analistas e críticos da educação neste país, inclusive dos próprios docentes em questão!?...

Foi realmente um crime perfeito, porque não deixou rasto!... A verdade é que ninguém falou do assunto! Os pais dos alunos são na sua esmagadora oriundos de extractos populacionais carenciados e com níveis de ilectracia enormes!... Os próprios sindicatos nunca se preocuparam muito com um subsector do ensino como é – e sempre foi – a educação especial!...

Recordo quer os sindicatos como organizações de massas só se preocupam com as maiorias e a educação especial/apoios educativos é um tema minoritário, bem como o número de profissionais que envolve.

Não é de estranhar que mesmo sindicatos afectos à FENPROF se tenham referido às  defuntas ECAE(s) com epítetos do género "patrões dos professores de apoio" e expressões quejandas!...

Por sua vez, os representantes das associações de  Pais que souberam dar eco à voz de alguns profetas da educação especial, deram corpo à ideia posta a circular dos custos elevados dessas equipas, sem qualquer contraditório!... A verdade é que foram exterminadas sem qualquer avaliação. Isto por um Governo que não fala de outra coisa senão da avaliação, como se nela estivesse a panaceia que vai resolver toda a crise do sistema educativo português!!...

Como é possível um Sistema de ensino afirmar-se quando os seus profissionais mais qualificados numa determinada área, como é o caso da educação especial, não estão a leccionar nessa área para a qual adquiriram, obviamente com muito esforço, qualificações, tendo sido praticamente obrigados a "regressar" à sua escola ou  Jardim, isto para não serem prejudicados no tempo de serviço para aposentação, no caso dos docentes vinculados ao 1º Ciclo e ao pré-escolar.  Que país é este?...

Aproveito para salientar ainda um outro aspecto mais chocante e que se prende com o facto do próprio Secretário de Estado, o já (tristemente) famoso Valter Lemos ter referido numa entrevista – logo no início deste desgraçado mandato que reconhecia a falta de docentes especializados numa área tão problemática como esta da educação especial, ao mesmo tempo que punha em causa a formação dos professores
nesta área!...

Claro que aqui já estava um indício da "declaração de guerra" que viria seguir!

A pergunta que se impõe creio que só pode ser uma, associada a duas outras, digamos que, sub-questão: - QUE PAÍS É ESTE QUE SE DÁ AO LUXO DE PRESCINDIR DOS SEUS DOCENTES MAIS EXPERIENTES NUMA ÁREA TÃO SENSÍVEL - E ATÉ COMPLEXA - COMO É A EDUCAÇÃO ESPECIAL? - A QUEM INTERESSOU O AFASTAMENTO DOS DOCENTES MAIS EXPERIMENTADOS NA ED. ESPECIAL? - Como é possível que as pessoas com responsabilidades a nível da Direcção Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular, que creio continuar superintender a educação especial  mantenham um silêncio sobre este escândalo?...

O próprio Conselho Nacional de Educação (2º creio) não se interrogou sobre este assunto, nem sobre a "morte" das ECAE(s) ?...

Autoria: Sousa Craveiro (Professor)

Data: Novembro de 2006



 

“Ensinar é marcar um encontro com o aluno” - relato de uma experiência

Muitas vezes, os professores também têm culpa pelo desinteresse dos alunos. Porquê? Porque como em todas as áreas profissionais há professores incompetentes, desmotivados, e que não fazem um esforço para motivar os alunos.

 

Vou contar-vos o que se passou com um aluno meu no ano passado.

...

 

Tive um caso de um aluno no ano passado que me provou que às vezes acreditar vale a pena e que é possível mudar a realidade que nos rodeia.

 

Esse meu aluno, o D., era um aluno com vincadas características de Défice de Atenção por Hiperactividade, e era uma criança, no mínimo especial... para não dizer difícil! A minha postura com este aluno teve que fugir ao caminho "pré estabelecido".

 

Dando uma imagem geográfica, para melhor me fazer entender:
Um rio, no seu desempenho, desde a nascente até à foz, pode ser rectilíneo ou apresentar curvas ou ainda meandros.
O ambiente escolar pode ser visto muitas vezes como um rio meandrizado que, face a um obstáculo, o contorna aproveitando as áreas menos acidentadas para prosseguir o seu percurso. Como a velocidade e o seu caudal não são suficientemente poderosos para desbravar caminhos, vê-se obrigado a enveredar pelo facilitismo.

Sentia-me revoltada quando via os meus colegas a falar do D.: “porque ele é insuportável”, “porque ele é desatento”, “porque tem bichos-carpinteiros”, “porque destabiliza a aula”... Porque, porque, porque! Tirando dois ou três professores, ninguém fazia um esforço para entender aquele rapaz. Só lhe apontavam o dedo... ninguém lhe dava a mão.

 

Dei por mim a ser empurrada pela corrente em direcção ao facilitismo, o que me forçou a nadar “contra a maré” e a estabelecer medidas para que o processo de ensino-aprendizagem desse aluno fosse levado a bom porto!


Este facilitismo tem mesmo de ser combatido, contudo, implica uma disponibilidade interna para enfrentar as inovações e essa condição não é comum ao caudal dos sistemas educacionais e aos professores em geral.


De facto, pensamos que sabemos tudo e geralmente fugimos do que desafia a nossa competência de ensinar. Queremos que os alunos se acomodem também e que se contentem ao terem aprendido o “velho” – aquilo que nós sabemos e lhes ensinamos.


Perante este “afluente vigoroso” que era o D. deixei-me levar pelo prazer de descobrir... passou a ser para mim tarefa relevante e indispensável. Tive de me debruçar sobre o assunto para melhor poder empreender esta tarefa, e revi muitos dos meus esforços para “marcar um encontro” com este aluno. Iria ele beneficiar e toda a turma (sempre distraída com as suas pantominas)... E no fim quem mais ganhou fui eu.

 

Afinal, ensinar é marcar um encontro com o aluno, o que implica uma mudança de atitude diante do mesmo.


O D. tinha uma dificuldade enorme de se manter atento, com imensa dificuldade em se concentrar, sempre a perturbar as aulas, a responder antes de ser completada a pergunta, a interromper os colegas, a não aguardar a sua vez, sendo dificílimo mantê-lo sentado 90 minutos seguidos. Não obstante, era uma criança meiga, educada e muito inteligente. Ficava sempre muito espantado quando era repreendido... na cabeça dele nada de errado se estaria a passar.

 

Devido às suas boas notas, embora irregulares de uns testes para os outros, o D. não era acompanhado por professores de apoio educativo. Na minha disciplina esse apoio seria completamente desajustado, contudo não sei se não teria sido proveitoso para o aluno ter acompanhamento por outras disciplinas, como o Português e a Matemática.


O que alterei então no processo de ensino-aprendizagem do D. e, consequentemente da turma? Optei por utilizar algumas técnicas de gestão do comportamento. Logo na primeira aula, e após as apresentações, desafiei a turma a estabelecer um contrato pedagógico, estabelecendo, todos juntos, as regras de conduta dentro da sala de aula, que visavam o bom funcionamento das aulas. Estabelecemos deveres e direitos, tanto dos alunos como da professora, incentivando-os assim ao cumprimento das regras estabelecidas. Para reforçar o incentivo, se tudo corresse conforme o estabelecido em contrato, ao fim de cada aula, os alunos recebiam um globo, que era guardado pelo D. Ao fim de 5 globos os alunos tinham direito a uma determinada recompensa (definida também em conjunto), ao fim de 10 globos outra... sendo possível acumular todos os globos, atingindo assim uma recompensa mais “apetecível”. Não é preciso adivinhar que, de todos os alunos, o D. foi quem mais vibrou com a ideia.


Esta minha opção educativa mostrou-se extremamente positiva para o D., tendo resultado durante (quase) todo o ano. O reforço positivo que lhe era dado, incentivava-o a “controlar” os seus impulsos, embora muitas vezes não fosse possível.


Apesar de ter sido uma actividade de sucesso e que deu frutos com toda a turma (não só com o D.) fui duramente criticada por alguns colegas que consideravam perda de tempo estes momentos didácticos.


Outra coisa pela qual fui criticada (e mais valia não ter comentado) foi ter deixado o D. fazer desenhos durante as aulas. Um dia “apanhei-o” a desenhar... passei no seu lugar, recolhi o desenho e continuei a aula sem emitir um comentário. No fim, qual não é o meu espanto quando olho para o dito e era uma banda desenhada, onde todos os conteúdos temáticos que iam sendo abordados estavam presentes. Estava mesmo muito engraçado... E afinal ele até estava atento.

 

A partir desse momento o D. foi livre de desenhar aquilo que quisesse durante a aula, com a condição de o desenho ser alusivo aos conteúdos temáticos e de mo entregar no fim os desenhos. Ainda guardo alguns de recordação.


Estará errado ter tomado esta atitude? Eu penso que não... apesar das críticas. No fim do ano lectivo o D. só teve nota 4... não teve 5 porque nos conteúdos procedimentais era demasiado trapalhão. Sabia o que devia fazer, mas muitas vezes fazia-o mal no meio de tanta agitação.


Outra opção que tomei foi adoptar uma situação educativa agregadora central. Fi-lo tendo em conta a necessidade de motivar o D. e os outros alunos e dar um “fio-condutor” às aulas, durante todo o ano lectivo.

 

Por uma questão de gosto pessoal, mas também sabendo que a situação educativa agregadora iria agradar aos alunos do 7ºano (pela faixa etária em que estes se encontram) a temática escolhida foi os seus personagens preferidos do Mundo Disney. Feito um portfólio com as imagens dos mesmos, foi-me permitido escolher alguns, para leccionar os conteúdos temáticos.


Ao longo do ano mostrou ser uma opção de sucesso, principalmente com o D.: ele ficava “preso” às histórias que as suas personagens Disney preferidas viviam... Quanto perguntava “alguém se lembra da matéria tal?”... O Daniel saltava logo da cadeira (literalmente!) e dizia “Sim! É a matéria da história tal e tal!”... Vivemos dentro das nossas aulas momentos muito engraçados por causa disso... Notava que o D. gostava de lá estar.


Tenho que admitir que por vezes a paciência faltou-me em momentos mais críticos... olhava para eles com olhar de má e ficava em silêncio... Aí só se ouvia o D. ... Que acabava por sossegar ao se sentir incomodado pelo o seu próprio barulho!



Esta experiência com o D., veio mostrar-me que não nos podemos esquecer que um aluno é mais que um indivíduo qualquer, com o qual nos deparamos simplesmente na nossa existência e com o qual convivemos um certo tempo das nossas vidas. É alguém que é essencial para a nossa constituição como pessoa e como profissional e que nos mostra os nossos limites e nos faz ir além.

 

Quais afluentes vigorosos de todo o processo de ensino aprendizagem, os nossos “D's” ajudam-nos a progredir neste terreno tão acidentado que é a profissão de professor.


Cumprir o nosso dever como professores supõe, portanto, considerações que ultrapassam a simples inovação educacional e que implicam o reconhecimento de que o aluno é sempre diferente, pois a diferença é o que existe, a igualdade é inventada e a valorização das diferenças impulsiona o progresso educacional.

 

E se me acusam de utopia... respondo:

 

“Temos o direito de acreditar que ainda não é demasiado tarde para empreender a criação da nova utopia da vida, onde ninguém possa decidir, excluir nem decidir por outro, até a forma de morrer ou viver. Onde as estirpes condenadas a Cem Anos de Solidão tenham, por fim e para sempre, uma segunda oportunidade sobre a Terra.” Gabriel Garcia Márquez

Autoria: Claudia Carvalho (Professora)

Data: Junho de 2006


 


A Inclusão de Crianças e Jovens com Nee

Não há, não,
Duas folhas iguais em toda a criação.
Ou nervura a menos, ou célula a mais,
Não há, de certeza, duas folhas iguais.

António Gedeão
(in Madureira & Leite 2003)


É necessário que a escola desenvolva processos de inovação e mudança que respondam com eficácia a todos os alunos.


A atenção às diferenças individuais, seja qual for a sua origem, numa escola inclusiva, exige currículos abertos e flexíveis, capazes de responder às necessidades comuns ao conjunto da população escolar.


É necessário que haja diferenciação, adaptação e individualização curricular às necessidades e características de cada aluno, em especial dos alunos com NEE. Todos os alunos deverão ter os mesmos direitos e oportunidades, incluindo o direito à diferença e a uma educação adaptada às suas necessidades.


Os princípios básicos para a intervenção, fundamentam-se em detectar e intervir o mais cedo possível, ter um optimismo razoável, baseando-nos nas capacidades e recursos que a criança tem, oferecendo-lhe situações e experiências que permitam o seu desenvolvimento, gerar uma dinâmica de êxitos no trabalho a realizar, para que a criança se sinta capaz de vencer as dificuldades.

 

Proporcionar um ensino individualizado, aceitar as diferenças,
reconhecer o que a criança é capaz de fazer e respeitar o seu ritmo.


Em todo este processo é fundamental o desenvolvimento de um trabalho de cooperação entre os diferentes intervenientes no processo educativo.


Importará também ajudar a família a desenvolver comportamentos e práticas conducentes ao reforço das suas capacidades e competências e ao fortalecimento das relações pais/filhos, no sentido de uma optimização do ambiente familiar que seja facilitador do desenvolvimento das crianças.


Uma abordagem de parceria baseada nos pontos fortes, assim como uma resposta às necessidades específicas das crianças e das famílias, são fundamentais para a inclusão com sucesso das crianças com Necessidades Educativas Especiais.

"O sucesso educativo de todos só é possível com a colaboração de todos."
(Diogo, 1998)


Autoria: Ana Lourenço (Educadora Especializada)

 

Data: Novembro de 2006 


 

A Importância da Inclusão

Não é de hoje a preocupação existente nas escolas em inserirem em contextos de ensino regular, crianças e jovens, que pelos mais diversos factores se sentem postos de parte numa sociedade em constante mudança.

 

A deficiência não deve ser vista como um factor impeditivo e de alienação da criança no meio educativo onde está inserida, deve sim ser um ponto de partida para uma junção de forças e apoios educativos que a orientem e integrem como futuro cidadão de pleno.

Já existem escolas que tem vindo a desenvolver esforços no sentido de colmatar esta lacuna.

Como professora de apoio educativo sinto que o contacto destas crianças com as outras, em classe de ensino regular, faz desenvolver sentimentos de respeito, compreensão, solidariedade e diminuindo na criança o sentimento de se sentir de parte.

Tenho noção que as minhas palavras são apenas pequenos metros numa longa estrada que temos que caminhar todos em conjunto, mas também sei que os poucos em breve se tornam muitos.

Bem hajam todas as crianças que de uma forma ou outra são importantes para o nosso desenvolvimento como comunidade escolar.

Joaquina Jacinto (Professora)

 

Data: Novembro de 2006