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educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

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EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

Atitude

Atitude

As atitudes, assim como o comportamento fazem parte da vida de qualquer indivíduo. As atitudes são disposições favoráveis ou desfavoráveis relativamente a objetos, pessoas, acontecimentos, ou até, em relação a alguns dos seus respectivos atributos.

As atitudes são aprendidas através da experiência/interação com outras pessoas; são complexas estruturas multicomponentes; têm objetos sociais específicos; são relativamente estáveis; variam na sua quantidade e qualidade possuindo diferentes graus de força motivadora e direção; são expressas através de predisposições comportamentais para agir de certa maneira.

Podemos definir o termo atitude, como a tendência/predisposição adquirida e relativamente estável para agir, pensar ou sentir de uma determinada forma (positiva ou negativa) face a um objeto, pessoa, situação, grupo social, instituição, conceito, ...

Isto é, uma disposição estável para responder, de forma consistente, favorável ou desfavoravelmente, a um objeto psicológico, de forma a predizer e explicar o comportamento humano (Ajzen e  Fishbein, 2000).


Funções das atitudes

As atitudes podem desempenhar diversas funções, tais como: favorecer o processo de tomada de decisões (função avaliativa), controlar os comportamentos, propiciar a adaptação à realidade (ajudam a definir grupos sociais, função instrumental, ideológica,...). Para além disto, contribuem para a estabilização da personalidade (estabelecimento da identidade) e podem determinar o modo como pensamos, sentimos e agimos.


Modelo tripartido

Uma forma de conceptualizar uma atitude é através da tripla composição das atitudes. As atitudes são compostas por: crenças, sentimentos (ou afetos) e tendências de ação (comportamentos). Ou seja, a atitude é um constructo multidimensional, que tem os seguintes componentes: afetivo, cognitivo e comportamental.

Relativamente ao aspecto cognitivo, as crenças são de dois tipos: crenças informacionais (isto é, o que a pessoa acredita acerca dos fatos de uma situação) e crenças avaliativas (resumem-se ao que a pessoa acredita  em relação aos méritos/deméritos, bem/mal, justo/injusto de diferentes situações). Desta forma, Fishbein e Ajzen (1975) consideram as atitudes como o resultado de uma avaliação das crenças relativas ao objeto.

No que se refere à componente afetiva, esta é unidimensional (ou seja, relaciona-se com a forma como o indivíduo vivencia a situação como um todo).

As atitudes baseadas na componente afetiva derivam de emoções despoletadas ou relacionadas com determinado objeto, através de efeitos de mera exposição e/ou de processos de condicionamento.

A tendência para a ação ou comportamento, é uma componente das atitudes, definindo-se como a tendência para agir de forma consistente com a atitude. Para além disto, a componente comportamental pode estar na origem das atitudes, especificadamente através de processos de auto-perceção, que permitem apurar o conteúdo das atitudes (tendo por base comportamentos relevantes para essas mesmas atitudes).


Formação de atitudes

De um modo geral, existem alguns agentes que influenciam a formação das atitudes: grupos primários (família, escola, amigos,...), que criam/limitam as situações para o indivíduo - das quais surgem as cognições e sentimentos.

Para além destes, existem ainda os grupos de referência (de participação ou não do indivíduo), que modelam a formação das suas atitudes na medida em que o indivíduo se identifica com eles.

Assim sendo, as atitudes do indivíduo desenvolvem-se, ao mesmo tempo que este se desenvolve. Ou seja, ao longo do desenvolvimento das atitudes o indivíduo adquire uma educação formal e informal, através da escola, dos pares e de outros agentes sociais (grupos de participação do indivíduo e grupos dos quais não faz parte).

Deste modo, os componentes cognitivos, afetivos e comportamentais que integram as atitudes influenciam-se mutuamente, isto é, qualquer mudança num destes três componentes é capaz de modificar os outros, uma vez que todo o sistema é acionado quando um dos seus componentes é alterado.


Atitude vs comportamento

As atitudes podem ser medidas, ou seja, podemos avaliar a sua direcção e intensidade (o que permite efectuar comparações entre os indivíduos e os grupos). Porém, existe a possibilidade das respostas serem influenciadas pelo contexto, pela ordem e formulação das questões, pelo humor do entrevistado, pela sociedade e até pela intenção deliberada de mentir por parte dos sujeitos.

Fishbein e Ajzen (1975) afirmam que as atitudes são importantes fatores na previsão do comportamento humano. 

Desde que se entenderam as atitudes como uma disposição comportamental, percebeu-se que podiam ser utilizadas para explicar a ação do ser humano (as atitudes podem ser deduzidas através do comportamento). Isto é, as atitudes não são diretamente observáveis, mas a partir de uma atitude podemos adivinhar um comportamento. Por exemplo, se tivermos conhecimento de uma pessoa que apresenta uma atitude negativa em relação à inclusão de alunos com deficiência, podemos, de certa forma, prever a forma como se comportará face à inclusão de uma forma geral.

Existem alguns factores que aumentam a consistência da relação entre atitude e comportamento, como: a força da atitude, a estabilidade da atitude, a acessibilidade da atitude, a relevância das atitudes para o comportamento, a saliência da atitude,.... Por outro lado, existem factores que reduzem a influência das atitudes no comportamento, como: pensar acerca das suas próprias atitudes, pressões situacionais, o alvo da atitude,...


Teorias sobre a atitude

A Teoria da Ação Reflectida (Fishbein e Ajzen, 1975), sugere que a causa próxima do comportamento é a intenção da pessoa em envolver-se no mesmo, isto é, as atitudes influenciam o comportamento através da sua influência sobre as intenções.

Assim sendo, as pessoas formam as suas intenções refletindo acerca das suas atitudes e das suas normas subjetivas, formam as suas atitudes reflectindo acerca das consequências do seu comportamento e formam as suas normas subjetivas reflectindo acerca da aprovação/desaprovação dos outros significativos em relação ao seu comportamento.

A Teoria do Comportamento Planeado (Ajzen, 1985, 2006), foi desenhada de forma a antever e compreender o comportamento humano em determinados contextos. Segundo esta, sempre que se pretende predizer a intenção de uma pessoa relativamente a um determinado comportamento, há que ter em consideração três variáveis: a atitude relativa ao comportamento específico; as normas subjetivas; e o controlo comportamental percebido (perceção do controlo comportamental).

Esta é utilizada quando se pretende observar/avaliar atitudes e intenções no contexto da inclusão. Esta teoria, sugere que as intenções das crianças para incluir pares com deficiência são influenciadas pelas expetativas e normas sociais, atitudes dos alunos e pela perceção do controlo do comportamento.

A Teoria do Contacto (Allport, 1954) assume-se como uma abordagem teórica, utilizada para o estudo das atitudes dos profissionais e dos pares, face aos indivíduos com deficiência. Baseia-se no pressuposto de que o contacto entre grupos em conflito permite aos indivíduos descobrirem um conjunto de afinidades que nunca pensariam existir (propiciando o seu relacionamento e compreensão mútua).

Todavia, é fundamental especificar em que condições o contacto facilita a perceção de semelhança entre os membros desses grupos, tendo para isso, em conta todo um conjunto de fatores: quantitativos (duração dos contactos, número de pessoas envolvidas e diversidade); de estatuto (nível do estatuto dos membros e dos grupos em questão); aspetos de papel (tipo de papéis, subordinação ou dominância); atmosfera envolvente (tipo de contacto); personalidade dos indivíduos (nível de preconceito, experiência prévia do grupo, idade e ainda nível de instrução); áreas de contacto entre grupos (profissional, recreativa, política,...).

Esta teoria é usada para estimular a união e promover a integração, porque promove atitudes positivas, através de experiências planeadas de interação e de um ambiente organizado com precisão. O contacto, estruturado e devidamente implementado, pode reduzir o preconceito e os estereótipos.

Esta teoria defende que quando diferentes populações têm contactos diretos com indivíduos com deficiência, produzem uma mudança positiva de atitudes (Sherril, 1998). 

A Teoria da Dissonância Cognitiva (Festinger, 1957) sugere que após tomarmos uma decisão, todos os aspectos positivos da alternativa não escolhida e todos os aspectos negativos da alternativa escolhida são inconsistentes com a decisão. Assim, para reduzir a dissonância após a tomada de uma decisão, existe uma tendência para aumentar a preferência pela alternativa escolhida e reduzir a preferência pela alternativa que não foi objeto de escolha. Ou seja, existe uma separação entre as crenças pessoais de alguém e suas atitudes e/ou a realidade ao seu redor (contexto).


Considerações finais

A relação existente entre atitudes e os comportamentos é facilmente entendida se situarmos as atitudes no contexto de outros fatores psicológicos que também definem os comportamentos e se atendermos ao princípio de correspondência.

Hoje em dia, existe um conhecimento significativo acerca da rede de relações entre atitudes, comportamentos e outras variáveis.

De uma forma geral, a crença de que a atitude do professor exerça influência direta sobre o êxito da inclusão de pessoas com deficiência em classes regulares enfatizou as pesquisas sobre esta temática na formação do professor.

Tripp e Sherrill (1991) assinalam diversas teorias que explicam as diferentes perspectivas de estudo sobre as atitudes no âmbito da educação física adaptada, sendo a Teoria da Ação Refletida e a Teoria do Comportamento Planeado os modelos teóricos mais estudados e validados, pois prevêem e compreendem grande variedade de comportamentos.

O conceito de atitudes parece adequar-se bastante ao estudo das reações das pessoas face à inclusão.

As reações manifestadas em relação à inclusão acarretam fortes componentes cognitivos, emocionais e comportamentais, que se encontram diretamente ligados às atitudes sociais.

A inclusão de crianças com deficiência no ensino regular, apresenta-se como sendo um objetivo pedagógico e social para diversos países, assim como uma orientação para todas as organizações internacionais.

De uma forma geral, a mudança das atitudes dos docentes envolvem todo um conjunto de condicionantes (valores, desejos, emoções, sentimentos e inseguranças face às realidades vividas na sala de aula com os alunos, órgãos de gestão, pessoal auxiliar e colegas...) que, de certo modo, ocupam um lugar de destaque no sucesso/insucesso de todas as políticas educativas. Assim sendo, a mudança de atitudes face à deficiência deverá ser tida como um desígnio global, dependente das ações, comportamentos e intenções dos professores e restantes agentes educativos, encarregados de educação e sociedade de uma forma geral.

António Pedro Santos