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educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

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EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

A musicalização como meio de intervenção no desenvolvimento global de crianças com síndrome de down – um estudo de caso

A música é um poderoso meio de intervenção em diversas áreas do desenvolvimento infantil: físico, sensorial, mental, emocional, psicomotor e social. Possibilita novas maneiras de se perceber o meio em que vivemos.  É também um agente de inclusão social, pois todo ser humano é sensível a ela, independente da reação que a música possa causar no indivíduo. Até mesmo uma pessoa com deficiência auditiva é capaz de sentir a música, através de suas vibrações. Pensando na inclusão social e no bem estar de pessoas com deficiência, minha pesquisa tem como foco a Síndrome de Down, que dentre as anomalias genéticas, é a que tem maior incidência em nascidos vivos. As pessoas nascidas com essa síndrome apresentam diversos problemas de saúde ao decorrer da vida, além da deficiência mental. Hoje sabemos que, quanto mais cedo receberem tratamento e estiverem expostas a atividades que as estimulem, melhor será seu desenvolvimento e mais eficazes serão os resultados obtidos. Sabendo dos benefícios que a música oferece ao ser humano, o objetivo principal dessa pesquisa é investigar e estudar a influência da música no desenvolvimento de crianças com Síndrome de Down.

A pesquisa:

Sou aluna do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP),Brasil, e atualmente curso o 5º ano da faculdade de música, com habilitação em composição e regência.

Meu primeiro contato com pessoas com síndrome de Down foi em 2007, quando comecei a dar aula de musicalização para um garoto com síndrome de Down, de 16 anos, em uma escola de música. A partir de então procurei saber mais sobre essa síndrome, em livros, artigos, revistas focadas no assunto, etc. Foi daí que surgiu o interesse na pesquisa de iniciação científica. Já tinha conhecimento do Instituto Gabi, pois morei no bairro onde é situado. Mandei um e-mail ao instituto falando sobre meu interesse e perguntando se havia algum profissional que trabalhasse com música, pois eu gostaria de ver como outras pessoas trabalhavam com música e crianças com deficiência intelectual. Na época não havia ninguém que fizesse esse trabalho lá, mas eles estariam contratando pessoas para trabalhar na área de artes, pois haviam recebido uma verba do FUMCAD (Fundo Municipal dos direitos da Criança e do Adolescente). E foi assim que comecei meu trabalho no Instituto Gabi. Mesmo dizendo à coordenadora que minha experiência com deficiência intelectual tinha sido somente com o garoto da escola de música, ela me fez o convite e eu aceitei. Foi uma experiência totalmente diferente, pois, até então, eu trabalhava com apenas um aluno, e de repente, me deparei com várias turmas, cada uma com no mínimo cinco crianças, com diferentes tipos de deficiência.

No final de 2007 surgiu a oportunidade para a continuação de uma pesquisa em andamento, com bolsa pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O tema era envelhecimento e educação musical. Resolvi aceitar, pois já seria um passo para, posteriormente, seguir na área que eu desejava. Terminada essa pesquisa, conversei com minha orientadora sobre meu interesse em fazer uma pesquisa sobre música e crianças com síndrome de Down. Ela me ajudou a fazer o projeto para a nova pesquisa, e em agosto de 2008 iniciei a parte teórica da atual pesquisa.

O primeiro passo foi pesquisar bibliografia, tanto sobre educação musical quanto de educação especial, além de livros específicos sobre síndrome de Down. Foi difícil achar material específico sobre música E educação especial. Há algumas dissertações de mestrado e até alguns livros publicados, mas ainda é muito pouco.

O próximo passo foi a parte prática. As aulas de musicalização são semanais, com duração de quarenta minutos. Em cada aula atendo duas crianças. Durante as aulas utilizo músicas do repertório infantil, folclore brasileiro, músicas de outros países e atém mesmo erudita. Realizo atividades rítmicas, jogos de memória auditiva e até confecção de instrumentos, feitos com sucata. Também utilizo instrumentos de percussão, como tambores, chocalhos, pandeiros, além de brinquedos e fantoches. Como cada criança apresenta uma dificuldade particular, procuro escolher atividades que ajudem a amenizar essa dificuldade. É um trabalho onde é preciso ter muita paciência, pois muitas vezes, os resultados demoram a aparecer. Já tenho notado alguns resultados positivos em crianças introvertidas e agressivas. Muitas das atividades de musicalização têm como principal objetivo a socialização. Isso faz com que a criança sinta-se como parte de um grupo, vendo outras crianças como companheiras, e não como ameaça. O importante é lembrar que crianças com síndrome de Down são como qualquer criança: cada uma tem sua personalidade e agem de maneiras diferentes.

Após o término de cada aula, cada atividade realizada é detalhada, junto com seus respectivos objetivos, os resultados obtidos e a reação das crianças, antes, durante e após as a aula. Os dados obtidos em relatórios, fotos, gravações (áudio e vídeo) e possíveis materiais confeccionados durantes as aulas, tais como instrumentos musicais, brinquedos, desenhos, etc., servirão de material para análise e contribuirão para que se chegue ao objetivo proposto e às conclusões inerentes ao trabalho. Foram entregues questionários aos pais das crianças e aos profissionais que as atendem no Instituto Gabi, abordando questões a respeito da vivência musical dessas crianças, a fim de investigar se as aulas de musicalização estão surtindo efeito no desenvolvimento delas.

Através dos dados obtidos pelos questionários respondidos pelos funcionários do Instituto Gabi, posso concluir que atividades de musicalização são, acima de tudo, um poderoso meio de intervenção nas diversas áreas do desenvolvimento infantil. Todos os funcionários entrevistados utilizam atividades relacionadas à música, diretamente ligadas a fatores musicais ou não. Acreditam também que a música prende a atenção das crianças, fator muito importante, já que o tempo de concentração dessas crianças é limitado. Outro fator muito relatado é a socialização. Através de atividades musicais é possível incluir o indivíduo em um grupo, de forma prazerosa e natural. Desse modo, a própria criança consegue se enxergar como um indivíduo, dentro de um grupo, incluída socialmente.

Ana Célia de Lima Viana - Brasil

 

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