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EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

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EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

Marieke Vervoort

Marieke Vervoort, a atleta paralímpica que decidiu morrer no dia em que achou que tudo era já "suficiente"

Marieke Vervoort, atleta e medalhada paralímpica, morreu esta terça-feira com recurso à eutanásia, aos 40 anos. A belga foi diagnosticada com uma rara doença degenerativa quando tinha 14 anos.

“Estou muito assustada, mas os papéis que assinei em relação à eutanásia dão-me muita paz de espírito. Sei que quando for suficiente, tenho esses papéis. Se não os tivesse, acho que já me teria suicidado. Acho que vão acontecer menos suicídios quando todos os países aprovarem a eutanásia. Espero que toda a gente entenda que isto não é um homicídio. Isto ajuda as pessoas a viver mais”. Para Marieke Vervoort, o dia em que tudo foi “suficiente” chegou esta terça-feira. A atleta paralímpica morreu com recurso à eutanásia, aos 40 anos, na Bélgica.

Vervoort sofria de uma doença degenerativa grave e crónica e foi medalha de ouro nos 100 metros T52 e prata nos 200 T52 nos Jogos Paralímpicos de 2012, em Londres. Quatro anos depois, no Rio de Janeiro — num edição paralímpica que garantiu ser “um último desejo” — foi prata em T51/52 400 metros e bronze em T51/52 100 metros. Foi precisamente no Brasil que a atleta belga fez soar os alarmes e deixou claro que o dia em que tudo seria “suficiente” estava mais perto do que aquilo que se pensava.

“É demasiado duro para o meu corpo. Sofro a cada treino por causa das dores. E tenho de treinar muito para cada corrida. Mas treinar e competir são as minhas curas. Esforço-me tanto. Esforço-me para empurrar todo o meu medo e tudo o resto para longe”, disse Marieke Vervoort, que revelou depois que passava muitas noites em que só conseguia dormir 10 minutos devido às dores e que os sintomas e as consequências do treino intenso a faziam desmaiar várias vezes. A belga tornou-se uma forte e importante defensora da eutanásia, que é legal na Bélgica, garantindo que ter assinado os papéis relativos aos procedimentos colocou-lhe “a própria vida nas mãos”.

Além das dores, a condição da atleta paralímpica tornou-se ainda mais complexa há alguns anos, quando Vervoort começou a sofrer ataques epiléticos — um deles, em 2014, fez com que deixasse cair comida quente em cima das pernas, num acidente que resultou num internamento de quatro meses no hospital. Diagnosticada com a rara doença degenerativa aos 14 anos, Marieke Vervoort garantiu em entrevistas que queria ser recordada como “a senhora louca” que estava “sempre a rir, sempre a sorrir”. Voou num F-16, andou num carro de ralis e chegou a começar a organizar uma exposição sobre a própria vida. “Olho para a morte de forma diferente agora. Vamos dormir e nunca acordamos. Para mim, é algo pacífico”, explicou numa das últimas entrevistas.

in https://observador.pt/

 

UMA REFLEXÃO SOBRE A FUNÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR…

Os desafios para o início do ano letivo

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A instituição escolar confronta-se atualmente com a necessidade de dar resposta a várias solicitações desencadeadas pela diversidade de públicos, de pedidos sociais, expetativas e de políticas educativas. Nos países desenvolvidos atingiu-se o grande objetivo da universalidade do princípio da escolaridade obrigatória. Todas as crianças e jovens em idade escolar frequentam a escola - emergindo atualmente o desígnio estruturante de evolução dos sistemas educativos, proporcionando a todos os alunos processos educativos de qualidade.

As mudanças ao nível do “modelo de escola inclusiva” com alterações na respetiva legislação desde o ano letivo passado reafirmou os princípios em que assenta no desenho universal para a aprendizagem e na abordagem multinível no acesso ao currículo. Esta abordagem baseada em modelos curriculares flexíveis no acompanhamento e monitorização sistemáticas da eficácia do contínuo das intervenções implementadas, no diálogo dos docentes com os pais ou encarregados de educação e na opção por medidas de apoio à aprendizagem, organizadas em diferentes níveis de intervenção, de acordo com as respostas educativas necessárias para cada aluno adquirir uma base de competências, valorizando as suas potencialidades e interesses.

Mas estes não são os únicos aspetos diferenciadores e de mudança no espaço escolar, com o inicio deste ano letivo enquanto Psicóloga numa escola, voltei a (re)pensar no meu papel, na minha intervenção. Desafios certamente sentidos por todos os psicólogos que dentro das suas escolas seguem um pedido de uma resposta educativa diferenciada permitindo a promoção do sucesso educativo dos seus alunos, criando alternativas diferenciadas e adequadas a cada um deles baseadas num trabalho interventivo.

O campo de intervenção da Psicologia da Educação é vasto e abrange todo o ciclo vital dirigindo-se a vários destinatários, com intervenção direta ou indireta nos processos educativos, entre os quais: alunos e formandos (crianças, jovens, adultos), professores e formadores, famílias, técnicos, assistentes, instituições e comunidades.

Não perdendo de vista o espaço dinâmico do meio escolar, onde os alunos convivem, crescem, evoluem e vivem uma diversidade de expetativas e anseios. O clima de escola atual é o resultado da convivência no mesmo espaço físico, dessa diversidade social e cultural, com interesses, opiniões e desejos muito díspares, originando situações de diferença e/ou divergência. As vivências têm-se tornado mais complexas em resultado da massificação e diversificação do público escolar, como tal os fenómenos de relacionamento humano, tais como a indisciplina, o conflito, a violência e o bullying, exigem uma reflexão profunda, um olhar atento e uma atuação atempada, para valorizar e desenvolver os relacionamentos de qualidade.

Surge assim a intervenção promocional, preventiva ou remediativa sempre com o  objetivo de desenvolver as capacidades e competências, promovendo contextos facilitadores da aprendizagem e do desenvolvimento pessoal, social e profissional. Acima de tudo a contribuição do Psicólogo deverá ser a promoção do desenvolvimento saudável e integral, o bem-estar e a saúde física e psicológica, o aumento da qualidade e satisfação com a vida, a promoção das relações interpessoais saudáveis, a prevenção de violência e de outros comportamentos de risco, a prevenção da discriminação, a promoção da cidadania ativa, a promoção da inclusão das pessoas nas suas comunidades, o compromisso e envolvimento com a aprendizagem e a redução de problemas psicoeducativos (de desenvolvimento, de comportamento, de aprendizagem e socioemocionais).

Neste sentido, as competências e capacidades dos Psicólogos da Educação constituem um apoio fundamental para as realidades individuais, sociais e económicas dos contextos educativos, sendo inúmeras as evidências científicas da eficácia, do custo-benefício e dos resultados positivos da sua ação. A escola é, pela sua natureza um espaço de descoberta e de transferência de saberes e afetos, por isso mesmo é motor de crescimento e mudança. Refletir sobre a existência do Psicólogo no espaço escolar pelos alunos, docentes, assistentes operacionais, famílias e outras estruturas sociais e educativas contribui para um melhor funcionamento destes serviços, bem como da intervenção dos profissionais que os constituem.

Na escola vivem vários “atores”, o psicólogo escolar e a sua intervenção está patente em documentos, legislação comunitária e nacional. Neste contexto é pois evidente a relevância dos Serviços de Psicologia e Orientação, criados em 1991, em que a intervenção está alinhada com um conjunto de pressupostos políticos, teóricos, científicos e técnicos organizadores da sua ação. Não esquecendo que por vezes o Profissional que se encontra num determinado ano letivo, não está no ano seguinte… dificultando a importância de continuidade do trabalho realizado e todas as problemáticas que lhe estão inerentes.

Também o professor é considerado uma figura central e de particular importância no processo ensino e aprendizagem e como elemento socializador e de referência na condução de um processo de ensino ativo, significativo, diversificado, integrador e socializador de modo a formar pessoas capazes de intervir e agir.

Os alunos, para serem ajudados a crescer, para aprender, enriquecer os seus conhecimentos e preparar a sua forma de estar na vida. Naturalmente com responsabilidades diferentes muitos deles revelam atitudes e afetos muitos diversificados. Pode ser um local de (des)integração, para quem lá estuda ou apenas está inscrito e até para quem lá trabalha ou lá está colocado. “A escola pode ser um excelente local de vida ou um tempo de falta…de vida.” (Patrício, 1995,p.251).

Fora dos muros da escola, para os alunos, o mundo parece atrativo e colorido, apresentando uma série de oportunidades e convidando o mesmo a fazer múltiplas descobertas.  No contexto escolar, tornar a experiência em sala de aula interessante é algo realmente desafiador, mas não impossível.

É importante que estejam patentes estratégias inovadoras de ensino, para que possam auxiliar o desenvolvimento dos alunos, não refiro unicamente ao uso exclusivo de novas tecnologias, também elas importantes, mas inovar utilizando velhos recursos, incluindo os tradicionais, mas nunca ultrapassados, livros didáticos, canetas e papéis (recursos estes explorados em sala de aula), podem permitir que a criatividade possa “colorir” a escola e dar significado ao ensino-aprendizagem através de projetos diferentes, interdisciplinaridade e aulas mais dinâmicas e interativas.

Motivar os alunos é importante, muitos estudantes vão para a escola porque faz parte das suas rotinas, tornar a escola enriquecedora, indispensável e como veículo transformador possibilita que os seus alunos estejam mais motivados e também eles saibam o que procuram dentro do ambiente escolar. A oferta de um ensino contextualizado, com elementos que fazem parte da vida do aluno e conteúdos que lhes façam sentido ajudará não só do ponto de vista cognitivo, mas também no que respeita à sua dimensão sócioemocional.

O Psicólogo deverá ser um elemento de ajuda e facilitador. O seu trabalho também vocacionado para a resolução de problemas específicos de alunos, professores ou pais, ou para a promoção das competências e condições favoráveis ao bem-estar e ao desenvolvimento psicológico deve incidir nos domínios: cognitivo (que inclua o desenvolvimento de competências e estratégias de resolução de problemas e de tomada de decisão); o emocional (que facilite a identificação e a expressão de sentimentos, o desenvolvimento de autoregulação e de estratégias de coping); o comportamental (que proporcione condições para a prática de estratégias de comunicação, de negociação e de interajuda); o motivacional (que desenvolva as expectativas de eficácia e controlo pessoais, que estimule a construção de metas e de projetos de futuro, que valorize a persistência e o esforço pessoal); e o contextual (que estimule a participação ativa e empenhada dos atores escolares).

Lanço este ano letivo o desafio de poder ainda intervir e melhorar as relações escola-família e comunidade. Sabendo que a prática de fatores como a variação nas opiniões, valores ou crenças entre pais, professores ou educandos, mostram muita relevância ao ponto de poder afetar programas, intervenções ou práticas e influenciar o curso de qualquer proposta ou tentativa de mudança.

Em contrapartida, fazer incidir as intervenções sobre as relações interpessoais e sistémicas, e facilitar a comunicação entre este níveis pode contribuir para ambientes escolares e interinstitucionais mais saudáveis e mais adequados à aprendizagem e manifestação de comportamentos adequados.

Termino esta reflexão tendo em cada ano letivo a certeza que o Psicólogo é envolvido num “meio” de experiências que vai de encontro ou não a um conteúdo teórico, onde as trocas vivenciais, as relações são construídas e os vínculos criados. Considero que a função do Psicólogo permite oferecer um conhecimento de uma observação diferenciada, face ao ambiente por vezes stressante, principalmente por lidar com a motivação e o desejo das pessoas, motivação em educar, em estudar, em trabalhar, em participar… em cooperar com os outros.

“Os principais problemas enfrentados hoje pelo do mundo só poderão ser resolvidos se melhorarmos nossa compreensão do comportamento humano” (Skinner)

Áurea Canas - Psicóloga - Membro Efetivo OPP nº 28

ENTREVISTA COM SALVADOR MENDES ALMEIDA: ASSOCIAÇÃO SALVADOR

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A Associação Salvador atua na área da deficiência motora e foi fundada por Salvador Mendes de Almeida em 2003.

Ao longo do tempo, tem desenvolvido projetos diferentes e ambiciosos que tiveram excelentes resultados e um demonstrado impacto na melhoria da integração e qualidade de vida de inúmeras pessoas com deficiência.

https://www.associacaosalvador.com/

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EDUCAÇÃO DIFERENTE - Porquê a criação da Associação Salvador?

SALVADOR MENDES DE ALMEIDA - Tudo começou com um projeto do meu pai. Com o meu acidente, após várias pesquisas em hospitais, clínicas e centros de reabilitação, o meu pai esteve nos EUA e conheceu o “Miami Project”. É um centro de excelência da University of Miami Miller School of Medicine, e é também considerado um dos principais programas de pesquisa que conduz investigações de ponta no campo das lesões na medula vertebral e no cérebro.

O meu pai entendeu com isto que há esperança na recuperação, no entanto, o mais importante é promover a qualidade de vida das pessoas com deficiência motora, mantendo uma fisioterapia ativa, a prática do desporto e a convivência com pessoas que estejam nas mesmas condições. Percebeu, então, que em Portugal não existia nada semelhante a este projeto em Miami. Mais ainda, que em Portugal as pessoas com deficiência motora isolam-se nas suas casas, quer por não haver condições de acessibilidades, quer por nem conhecerem as oportunidades.

Foi daí que a Associação Salvador começou por organizar eventos de convívio, promovendo o encontro, a partilha e o testemunho das experiências das pessoas com deficiência motora.

EDUCAÇÃO DIFERENTE - Qual é a missão da Associação Salvador?

SALVADOR MENDES DE ALMEIDA - A Associação Salvador tem como missão promover a inclusão das pessoas com deficiência motora na sociedade e melhorar a sua qualidade de vida, potenciado os seus talentos e sensibilizando para a igualdade de oportunidades.

EDUCAÇÃO DIFERENTE - Qual é o seu âmbito de intervenção e que tipo de actividades desenvolvem?

SALVADOR MENDES DE ALMEIDA - A Associação Salvador trabalha em três áreas principais: conhecimento, integração e sensibilização.

Na área do conhecimento promovemos o Encontro sobre lesões vertebro-medulares - divulgação dos avanços científicos, clínicos, terapêuticos e de integração ao nível da abordagem ao paciente com lesão vertebro-medular; criámos o Manual para pessoas com deficiência motora - disponibilização de informação sobre apoios existentes, forma de os obter e contactos úteis para pessoas com deficiência motora (disponível para download gratuito no nosso site).

Na área da integração atribuímos anualmente 130.000€ em Apoios (projeto Ação Qualidade de Vida) - apoio direto a pessoas com deficiência motora e comprovadas carências financeiras, nas categorias de Obras em Casa, Formação e Equipamentos desportivos; desenvolvemos o Projeto de Apoio ao Emprego na Grande Lisboa e no Grande Porto - capacitação dos candidatos, através de orientação e formação, sensibilização de empregadores e integração profissional; organizamos Eventos Inclusivos - eventos lúdicos, culturais e desportivos, que visam fomentar a partilha de experiências e aumento da autoestima e autonomia dos participantes; Promovemos o Desporto adaptado - disponibilizamos a prática regular de 11 modalidades adaptadas: ginásio, ciclismo, dança, yoga, vela, canoagem e remo, surf, hipoterapia, padel e natação.

Na área da sensibilização desenvolvemos o projeto “Sensibilização em escolas” - promoção de palestras em escolas secundárias e teatro de marionetas em jardins-de-infância para desmistificar o tema da deficiência; desenvolvemos ações de Prevenção Rodoviária - participação como parceiros na Campanha BP Segurança ao Segundo e realização de ações de promoção de segurança rodoviária; Na área das acessibilidades desenvolvemos ações de sensibilização, estamos a estudar uma proposta de alteração da lei das acessibilidades, bem como a realização de serviços pontuais de consultoria, para que Portugal seja um país acessível para todos.

EDUCAÇÃO DIFERENTE - Quais são as maiores dificuldades e necessidades da Associação Salvador?

SALVADOR MENDES DE ALMEIDA - A mentalidade e os hábitos muito enraizados, são os grandes entraves ao desenvolvimento. É por esse motivo que temos feito várias ações e iniciativas para a mudança de mentalidades, especialmente no ano passado, para a melhoria das acessibilidades.

Noutro âmbito e sendo uma instituição sem fins lucrativos, a Associação Salvador precisa de generosidade e donativos, quer sejam financeiros quer em apoios específicos para as campanhas de angariação de fundos, para dar continuidade aos projetos que desenvolve em prol das pessoas com deficiência motora de todo o país. Felizmente temos crescido ano após ano, quer ao nível de novos projetos, quer no aumento muito significativamente do número de pessoas apoiadas.

EDUCAÇÃO DIFERENTE - Quais são as suas principais preocupações (da Associação Salvador) relativamente aos direitos e condições das pessoas com deficiência em Portugal?

SALVADOR MENDES DE ALMEIDA - A Associação Salvador preocupa-se com todos os direitos relativos às pessoas com deficiência motora no geral e em particular naqueles em que nos especializámos e desenvolvemos os nossos projetos.

Nos últimos anos temos apostado fortemente na área das Acessibilidades, procurando combater as barreiras arquitetónicas de edifícios públicos e privados, realizando ações junto do Senhor Presidente da República e do senhor Primeiro Ministro e junto dos portugueses em geral, para que Portugal seja um país para todos.

Temos procurado igualmente a promoção de uma sociedade mais inclusiva ao nível da empregabilidade das pessoas com deficiência.

Através do nosso percurso de 16 anos temos dado maior visibilidade aos problemas das pessoas com deficiência, procurando as melhores soluções para uma verdadeira inclusão.

EDUCAÇÃO DIFERENTE - Como vê a inclusão e a integração das pessoas com deficiência em Portugal?

SALVADOR MENDES DE ALMEIDA - Temos percorrido um longo caminho, e em conjunto com outras associações congéneres e com cada vez mais pessoas com deficiência que são verdadeiros ativistas da nossa causa, temos mudado muitas vidas e mentalidades.

Mas ainda há muito por fazer e a vida não pode parar.

EDUCAÇÃO DIFERENTE - Qual é o papel da sensibilização para uma sociedade mais inclusiva?

SALVADOR MENDES DE ALMEIDA - A Associação Salvador acredita no enorme potencial dos jovens enquanto agentes de mudança, realizando palestras de sensibilização em escolas de todo o país. Alargámos inclusivamente a nossa atuação aos jardins de infância, sensibilizando milhares de crianças.

Procuramos também sensibilizar a população portuguesa no geral, através de ações de sensibilização, palestras ou presença muito regular nos meios de comunicação social.

EDUCAÇÃO DIFERENTE - Onde ou como gostaria de ver a Associação Salvador daqui a 20 anos? Isto é, qual é ou quais são as grandes ambições a longo prazo?

SALVADOR MENDES DE ALMEIDA - Se dentro de 20 anos não existíssemos era sinal que a nossa missão estava cumprida e que as pessoas com deficiência viviam plenamente integradas na sociedade.

Infelizmente é uma utopia e ainda há um longo caminho a percorrer.

Neste caminho procuraremos crescer, mudando cada vez mais vidas e mentalidades.

EDUCAÇÃO DIFERENTE - Gostaria de deixar alguma mensagem à sociedade?

SALVADOR MENDES DE ALMEIDA - A mensagem que gostaria de deixar aos Portugueses é que promovam a inclusão das pessoas com deficiência motora na sociedade, acreditando nas suas potencialidades, tratando-as como iguais, sobretudo nas escolas e no acesso ao emprego e ao desporto, áreas fundamentais para o desenvolvimento de qualquer pessoa.

Convido-os igualmente a seguirem o trabalho da Associação Salvador, envolvendo-se nas nossas causas.

Só desta forma conseguiremos criar uma sociedade mais inclusiva e para todos.

Juntos mudaremos vidas e mentalidades!

A EDUCAÇÃO E CONSCIÊNCIA: 

Uma reflexão crítica entre fazer ser igual e sentir igual na construção da cidadania

Introdução

A educação, ao longo da história, tem sido usada como fator de transformação e de manutenção de valores que interferem sobremaneira na dinâmica social. Durante décadas, sobretudo no final do século passado, foi dado maior realce a educação com viés para a formação profissional do que a educação calcada em valores éticos e morais e, includentes. Dada a importância que o conhecimento - no sentido de aquisição de habilidades profissionais para transformar e gerar produtos – assumia na sociedade capitalista, para dar resposta ao aceleramento da política de industrialização, a necessidade de capacitação e de treinamento de profissionais reascende no cenário internacional e, a partir de então o investimento na educação passou a ser calculado em termos de retorno econômico e financeiro, e não pelo interesse de formar cidadãos capazes de serem agentes multiplicadores da dinâmica social e de mudanças de paradigmas. Baseado nos princípios que ditam a lógica do mercado (mais-valia), a política educacional passa a ser direcionada aos moldes de um modelo político concentrador e cada vez mais excludente. Nesta base, toda a política do investimento na educação passa a apresentar um viés materialista e pragmático, útil e rentável ao mercado e por sua vez desprovido de ética, moralidade e solidariedade (LAMPERT, 1995).

Neste sentido, apela-se para a revisão não apenas do conceito, mas também do verdadeiro paradigma da educação contextualizada política e socialmente. Ou seja, como reflete LAMPERT (1995) “... rever a educação - o paradigma transnacional sem fronteiras que inocenta o Estado de suas obrigações sociais. Salvar o bem mais precioso da humanidade – a educação em todos os níveis e complexidades”. Conclama-se nesta base, aos poderes constituídos, no sentido de darem maiores ênfases ao investimento em programas educacionais que atendam o social em detrimento do capital e da internacionalização de interesses econômicos – a Globalização.

Só desta forma é que se espera atingir a plenitude da vontade da nação expressa na maioria das cartas constitucionais, onde declaram a educação como um direito universal, e que cabe ao estado assegurar a sua implementação de forma ampla através de suas políticas públicas. Educar não é apenas ato de informar, mas também de compartilhação de saberes.

Educar é acima de tudo um ato de doar a si mesmo para trabalhar o que o Divino Mestre colocou no Homem, para que possa o distinguir dos demais seres vivos por ELE criados, ou seja, a linguagem. E, em prol do desenvolvimento dela se cultiva o Conhecimento, que nada mais é que a compartilhação de Saberes oriundos de diferentes modos de pensar dos povos de distintos matizes sociais, políticas e econômicas.

Sem essa base de entendimento sobre o que é educar, este termo acabará se transformando num mero ato de doutrinação e de domesticação do conhecimento em prol de objetivos políticos traçados. Portanto, associar o verbo educar, o ato de ensinar, com o substantivo educação, a materialização dessas ações que se realizam a cada momento na vida, direcionada para um fim justificado, seja ele fruto de atitudes espontâneas de um mundo com vontade de fazer ser igual, seja ele um determinismo do mundo de negócios, onde os interesses econômicos moldam os perfis das pessoas à eterna busca pela sobrevivência fazendo-as parecerem iguais em vez de se sentirem ser iguais, é no meu entender - pelo que se constata na atualidade - a tentativa de postular um princípio educacional sobre a formação do cidadão sem a criticidade.

Esta falta de criticidade atinge sobremaneira não apenas o saber do senso comum como também a formação ética profissional das pessoas, e, como conseqüência, a falta de humanismo no lidar com coisas públicas, ou seja, o egocentrismo urbano-industrial combatendo a estética social. A decência e a beleza que faz os cidadãos humanos e civilizados (elegância educacional) sendo confundido com a estética visual (beleza e elegância urbana). Quando Freire (1996) defende que ensinar exige estética e ética, ele entende que não seria possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela.

A ausência da ética, da moral e da solidariedade, num sistema educacional excessivamente materialista e prático, concorre indiscutivelmente para o aumento de riscos e de incertezas nas sociedades que adotam ou estão submetidas a essas regras. E quanto à estética entendo que o educador deve ilustrar com exemplos ou mostrar o que há de belo e emocionante quando o educador e o educando concluem que valeu a pena essas troca de saberes em prol de consolidação do Conhecimento.

O egocentrismo, o estímulo à competição sem limites e o pragmatismo, no sentido de só dar valor ao que é produtivo e rentável, conduz a caos social gerando instabilidades político-sociais como: desemprego, aumento de violência urbana, sem contar com a impunidade, fato marcado pelo cultivo de indiferença ao próximo. Por isso, no artigo que escrevi para o Editorial da página Educação da home-page www.didinho.org  em certo parágrafo realço a educação como um bem social, cujo investimento tem como retorno à prática da cidadania, a tolerância democrática, o cultivo da verdade, enfim, a edificação do templo da virtude humana que vencerá o mal de todos os males - o vício, por ser deste mal que se atrai o culto da mentira, da corrupção e da desonestidade. Em síntese, o vício conduz à falta do compromisso cidadão. Portanto, o dever cidadão é combatê-lo com a arma do Saber municiada de Consciência. Nesta base, promover a educação sem a ela estar associada à conscientização de que a missão institucional é formar cidadão responsável e compromissado com os objetivos sociais e na formação do valor humano, todo o esforço caminhar-se-á para o vazio social que acabará ampliando nas pessoas aquele sentimento do vazio existencial e o descrédito pelas coisas públicas, mais concretamente à falta da cidadania. Por isso no meu entender distanciar o ensino da realidade e da experiência comunitária seria como que uma transgressão aos princípios da estética e da ética social. Em certos momentos da sua reflexão acerca de saberes necessários à prática educativa, Freire (1996), comenta que transformar a experiência educativa simplesmente em treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo que é o seu caráter formador, porque entende que para se respeitar à natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não poderá dar-se alheio à formação moral do educando.

Por estas razões compartilho a idéia de que a educação é uma importante ferramenta para a assistência, que pode ser utilizada para favorecer o processo evolutivo das consciências.

A consciência se aperfeiçoa no momento em que ela supera suas próprias limitações, principalmente as limitações de ordem mental. Como afirma Candido (2008), a educação não é uma parte da vida de um povo, pelo contrário, ela é o centro, o coração de uma civilização, da qual indica o nível. Por isso, entendo que pensar em educação sem a consciência da cidadania não há como reconhecer e assumir a identidade cultural que se faz presente entre quem transmite e quem recebe o conhecimento. 

Sanha (2008), na sua análise sobre a educação e a formação profissional como pólos do desenvolvimento sócio econômico define-a como um dos pilares indiscutíveis do desenvolvimento econômico, social e cultural das nações. Para ele, quanto mais culto for um povo melhores condições ele reunirá para conceber, criar, planejar e executar com elevada precisão os projetos nacionais, nos mais diversos sectores que compõem as sociedades.

Nesse sentido, a educação permite que se amplie a percepção da realidade sem a qual todo o sistema do ensino se resumirá a uma ideologia de ilusões do discurso de mercado, com intuito de oferecer um leque de opções que nada tem a ver com a formação integral do cidadão, mas sim, apenas preparar os jovens para assumirem o papel de conformismo em um mundo do progresso técnico.

Para que o professor possa ensinar seus alunos a pensar de maneira mais ampla, ele primeiro terá quer realizar uma auto-educação. Ou seja, primeiro ele desenvolve a sua flexibilidade mental, para depois ser um elemento facilitador da flexibilização do pensamento de seus alunos. Agindo dessa forma, estará negando o que Freire (1996) chamou de “forma farisaica do faça o que eu digo e não o que eu faço”. O professor, por viver em um meio científico, tem ainda mais responsabilidade na tarefa de favorecer a flexibilização do pensamento do aluno, já que o paradigma científico não admite verdades absolutas.

A educação contemporânea, moldada nos ditames da lógica capitalista, incentiva a concorrência em busca de sobrevivência do que ser solidário buscando a consolidação do saber para melhor servir a sociedade. Ou seja, a preocupação está em adquirir conhecimento para garantir a vaga no mercado, sinônimo de empregabilidade, do que trabalhar o saber para compartilhar com a comunidade – a inserção social do ensino.

Quando não se tem essa idéia global sobre a Educação e a Consciência, a prática do ensino acaba se reduzindo em um descompasso entre Educar e Ensinar, baseados meramente na etimologia da palavra, relegando para o segundo plano os conteúdos verdadeiros destes termos. Cria-se em volta do conhecimento uma religiosidade do tipo, “titular da área ou da disciplina”, Esta singularidade no modo de tratar o problema educacional leva os professores a se transformarem em agentes depositários de conhecimentos, que Paulo Freire denomina de “Ensino Bancário”, acompanhado de doses de autoritarismo, preconceitos, dogmas e pontificadores da verdade. Esta atitude denota uma postura muito mais religiosa do que científica. É comum ver estes professores fazendo vista grossa para conhecimentos que diferem dos já estabelecido, por se julgarem “o Papa do assunto ou da área de conhecimento”. Esta falta de criticidade no ensino enseja um descompromisso com respeito aos saberes dos educandos, frutos de heranças culturais das comunidades nas quais estão inseridos, esquecendo-se de que ensinar é, antes de tudo, também, aprender com o diferente, de que as diferenças não traduzem o distanciamento entre o ensino e a aprendizagem, mas sim uma aproximação de saberes, uma cumplicidade da vontade de se conhecer e conhecerem-se mutuamente.    

Freire (1996) defende que Ensinar exige risco de aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. O que pensar então do professor que a todo custo se mantém na zona do conforto do conhecimento já estabelecido. Ou seja, aquele que se utiliza diversos artifícios para rejeitar a idéia nova que está sendo proposta, quando se vê questionado ou se propõem idéias que vão contra as que ele defende. Naturalmente foge dos debates abertos ao deparar-se com uma idéia que vai além dos conhecimentos já estabelecidos, utilizando-se de sua posição de autoridade em sala de aula para impor sua opinião. Ou muitas vezes utiliza-se da ridicularização do conhecimento diferente que está sendo proposto.

 

Conclusão

No meu entender a falta de criticidade no ensino que enseja o professor a se manter a todo o custo na sua bolha do saber, inflexível a tudo que possa propor mudanças para o melhor em detrimento do antigo e defasado cria um campo de rejeição a mudanças que podem trazer melhorias para políticas educionais. Atitude como essa se associa à falta da consciência sobre os princípios da educação que devem nortear uma sociedade no que tange a construção do conhecimento. Neste contexto, é a carência da consciência da cidadania que está sendo confundida ou quem sabe até camuflada pela postulância da sobrevivência profissional. Portanto, conclui-se que a Consciência só melhora sua manifestação a partir da decisão e do esforço pessoal. Não é o simples fato de estar no meio acadêmico que fará com que o professor-pesquisador supere seus preconceitos e limitações mentais. Só conseguiremos ser educadores mais assistenciais a partir do momento que nos esforçarmos para superarmos nossas próprias limitações pessoais. Toda educação começa pela auto-educação.

Referências Bibliográficas

BARI, M. L.. Educação:  reflexão para o debate inevitável na projeção do desenvolvimento. www.didinho.orgProjeto Guiné-Bissau: Contributo, 2007.

CANDIDO, Matteo. A Educação: Preliminares  www.didinho.orgProjeto Guiné-Bissau: Contributo, 2008

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e Terra, 1966.

LAMPERT, E. A problematização da pesquisa na universidade. Perspectiva, Erechim, v. 19, n. 68, p. 57-69, dez. 1995.

A globalização e os desafios da universidade pública. Universidade e Sociedade, São Paulo, v.8, n.15, p.94-9, fev. 1998.

MIRANDA, M. G. Novo paradigma de conhecimento e políticas educacionais na América Latina. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.100, p.49-56, mar. 1997.

PASSOS, Elizete (org) e outros. Ensaios sobre a ética e responsabilidade social. Salvador. Os autores, 2005.

SANHÁ, Filipe. A Educação e a formação profissional como pólos de desenvolvimento social e econômico.www.didinho.orgProjeto Guiné-Bissau: Contributo, 2008.

Mamadu Lamarana Bari  - Professor da Universidade Federal de Mato Grosso, Imortal da Academia Brasileira de Ciências Econômicas, Politicas e Sociais, Titular da Cátedra n° 116.

Prescrição de Exercício Físico - Importância e Realidade

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Benefícios da actividade física

A actividade física regular está associada a imensos benefícios ao nível da saúde física e mental: “Ao longo dos últimos anos, a prática regular de exercício físico tem sido reconhecida como uma alternativa não medicamentosa ao tratamento e prevenção de doenças crónico-degenerativas, promovendo a saúde e a sensação de bem-estar (Warburton, Nicol & Bredin, 2006)” - com benefícios evidentes nos domínios físico e cognitivo.

O exercício físico é de extrema importância para a redução da tensão arterial, para o controle do peso e no combate à obesidade. Contribui para a diminuição da diabetes, na protecção contra a osteoporose e enfraquecimento dos ossos, na redução da doença coronária/cardiovascular, entre outros...

A prática do exercício físico colabora ainda, para uma melhoria efectiva da saúde mental, no que concerne à capacidade de resistir às exigências da rotina diária, nivelamento dos níveis de ansiedade, combate às depressões, construção da identidade pessoal, etc…

“Estudos realizados (…) apontam para a existência de efeitos positivos da prática regular de exercício físico ao nível da saúde mental, em diferentes indicadores tais como os estados de humor, a depressão, a ansiedade, o stresse e a auto-estima (Biddle, Fox, & Boutcher, 2000)”.

Os efeitos indirectos do exercício físico na saúde mental traduzem-se na melhoria da qualidade de vida e bem estar do indivíduo, assim como o desenvolvimento de um estilo de vida saudável preventivo de doenças. Por outro lado, os efeitos directos do exercício físico na saúde mental são: a prevenção/tratamento de desordens mentais; a melhoria do bem estar psicológico (estados de humor e autopercepções); do funcionamento mental (gestão do stress, sono e cognição) e do bem estar social (autonomia, interacção e cidadania).

A prática de actividade física também desempenha um importante papel na prevenção de doenças mentais, como por exemplo na depressão clínica (note-se que os efeitos do exercício físico são tão positivos como a psicoterapia), nas desordens mentais (no combate aos acessos de pânico, ansiedade e esquizofrenia), nas desordens obsessivo-compulsivas (diminuindo sintomas e promovendo alívio emocional), enfim… nas fobias, na esquizofrenia e psicoses.

Para além disto, a literatura da especialidade sugere que os exercícios, nomeadamente os aeróbios, contribuem para a preservação da memória, melhoram a qualidade do sono, o humor, diminuem os níveis de stress, combatem as doenças ligadas ao envelhecimento e ajudam a controlar os sintomas de depressão e de ansiedade.

A realização de exercícios físicos de forma estruturada e continuada, fortalece o sistema imunitário, diminui a dor crónica e melhora significativamente a atenção e a concentração. Isto ocorre devido ao aumento de endorfinas (substância química que provoca uma sensação de prazer, euforia e bem estar) no sistema nervoso.

Esta sensação de bem estar provocada pela prática de exercício reflecte-se directamente na autoestima, ao nível social, profissional, espiritual e físico - conferindo percepções específicas da situação contextual do indivíduo.

O exercício físico também promove benefícios sociais, combatendo o isolamento e proporcionando integração plena do indivíduo.

Prescrição de Exercício Físico

Podemos definir a prescrição do exercício como, todo o processo através do qual o estabelecimento de recomendações para um regime de actividade física é concebido de forma sistemática e individualizada (American College of Sports Medicine, 1995).

Os princípios da prescrição do exercício baseiam-se nas evidências científicas da fisiologia, psicologia, assim como no conhecimento que se tem dos benefícios para a saúde pela prática de actividade física.

A correcta prescrição do exercício é caracterizada por um processo de preparação metódica do organismo - de onde resultam modificações morfológicas/funcionais, que definem o estado de condição física do indivíduo.

Como principais propósitos de intervenção no combate ao sedentarismo, desenvolvimento da actividade física e consequente melhoria da qualidade de vida e saúde das pessoas, torna-se imperioso o desenvolvimento de estratégias que assentem em politicas ao nível da saúde e da cidadania. No sentido de melhorar o acesso à prática de actividade física, no desenvolvimento e promoção de hábitos de vida saudáveis, na formação de profissionais qualificados e no acesso aos cuidados de saúde. Isto é: “Incentivar o desenvolvimento e implementação de estratégias que sejam centradas na redução do sedentarismo e das barreiras à prática de actividade física e promover compromissos intersectoriais e intervenções multidisciplinares (Estratégia Nacional Para a Promoção da Actividade Física, da Saúde e do Bem-Estar, 2016)”.

Os princípios gerais da prescrição do exercício são considerados como referência para indivíduos adultos saudáveis, contudo, existem outras populações com problemas de saúde (idosos, deficientes, grávidas, ou atletas com outro tipo de objectivos) que necessitam de uma prescrição individualizada/adequada às características, necessidades, capacidades e limitações.

O Plano Nacional de Saúde, aponta como metas 2020: a redução da mortalidade prematura (≤70 anos), para um valor inferior a 20%; o aumento da esperança de vida saudável aos 65 anos de idade em 30%; a redução da prevalência do consumo de tabaco na população com ≥ 15 anos e eliminar a exposição ao fumo ambiental ; o controle da incidência e a prevalência de excesso de peso e obesidade na população infantil e escolar, limitando o crescimento até 2020.

De uma forma geral procura-se a promoção da saúde através da prevenção dos factores de risco de doenças de causa hipocinética (resultantes de hábitos inapropriados como o sedentarismo, alimentação deficiente, falta de exercício físico regular, etc…), da melhoria da condição física e de uma acção pedagógica que informe acerca dos benefícios da actividade física e da forma correcta/segura de realizar exercício.

Existem elementos básicos comuns a todas as prescrições do exercício: o modo, a intensidade, o volume e a frequência do treino.

As componentes da condição física relacionadas com a saúde incluem: a componente cardiovascular (trabalhada no exercício aeróbio); força e resistência muscular; flexibilidade e composição corporal.

Para prescrever exercício físico, é de extrema importância conhecer o estado de saúde do indivíduo.

Os componentes essenciais de uma prescrição sistemática/individualizada incluem: actividades apropriadas, intensidade, duração, frequência e progressão da actividade física - estes são aplicados para pessoas de todas as idades e capacidades funcionais, independentemente da existência/ausência de factores de risco.

Assim sendo, uma sessão de treino deve contemplar:

Aquecimento - 5 a 10 minutos de actividade cardiovascular e endurance muscular (executados a intensidades baixas a moderadas);

Flexibilidade - cerca de 10 minutos de exercícios de alongamento (realizados depois do aquecimento ou retorno à calma);

Condicionamento físico - 20 a 50 minutos de actividade aeróbia, actividade de resistência, actividade neuromuscular e actividade desportiva (exercício relacionado com o desporto praticado);

Retorno à calma - 5 a 10 minutos de exercício cardiovascular/actividade de endurance (de baixa intensidade a moderada).

A quantidade/volume de exercício está dependente da frequência, intensidade e duração do exercício realizado - um incremento do dispêndio energético melhora seguramente a condição física.

A frequência com que o exercício é realizado desempenha um papel importante, isto é, exercícios de intensidade moderada realizados no mínimo 5 dias por semana, ou exercícios aeróbios de intensidade vigorosa realizados 3 dias por semana, ou ainda uma combinação semanal de 3 a 5 dias de exercício de intensidade moderada a vigorosa são as formas recomendadas para que a maioria dos adultos alcancem/mantenham os benefícios da pratica do exercício.

Para além disto, existe uma relação directa entre o aumento da intensidade do exercício e os benefícios para a saúde e para a condição física - a prescrição da intensidade recomendada para a maioria dos adultos pode ser uma combinação da intensidade moderada com a intensidade vigorosa.

No que se refere à duração, recomenda-se para a maioria dos adultos:

Exercício de intensidade moderada - no mínimo 30 minutos durante 5 dias da semana (até um total de 150 minutos);

Exercícios aeróbios de intensidade vigorosa - no mínimo de 20 a 25 minutos durante 3 dias por semana (até um total de 75 minutos).

A composição corporal é encarada como um elemento da aptidão física relacionado com a saúde - devido às correlações existentes entre a quantidade/distribuição da gordura corporal com modificações no nível de aptidão física/estado de saúde.

Algumas técnicas/exames para determinar a composição corporal:

Pesagem hidrostática: esta técnica baseia-se no princípio de Arquimedes (quando um corpo está imerso em água, existe uma força contrária igual ao peso da água deslocada): Os tecidos ósseos e musculares são mais densos que a água (mais pesados), por outro lado, o tecido adiposo é menos denso (mais leve). Assim sendo, uma pessoa com mais massa corporal livre de gordura para a mesma massa corporal total pesa mais na água, ou seja, esta pessoa tem uma densidade corporal maior e uma percentagem de gordura corporal menor.

Pletismografia: é realizada num pletismógrafo (cabine totalmente fechada e com um volume conhecido onde o paciente é colocado). Durante o exame, o paciente respira através de um bocal e vai realizando diversas manobras respiratórias (com diferentes intensidades de esforço) - estas provocam transformações ao nível da pressão na própria cabine. Estas modificações facilitam o cálculo das variações dos volumes pulmonares - fundamentais para calcular os diferentes parâmetros em análise.

Bioimpedância: consiste num exame que avalia com alta precisão/rapidez a composição corporal. Através de uma corrente eléctrica imperceptível, é possível avaliar: massa gorda (% de gordura e gordura corporal em Kg); massa magra (músculos, ossos e órgãos); água corporal total (litros e % de água na massa magra).

Métodos antropométricos: índice de massa corporal (utiliza-se a massa corporal em Kg dividida pela estatura em metros elevada ao quadrado); circunferência da cintura (coloca-se a fita métrica em torno do abdómen, paralelamente ao solo, na zona mais estreita da cintura); relação cintura/anca (calcula-se dividindo o valor do perímetro da cintura pelo valor do perímetro da anca); equações de determinação da densidade corporal através da medição de pregas adiposas e determinação do peso ideal.

Considerações Finais

Lamentavelmente, nos nossos dias, ainda existem numerosos constrangimentos relativamente ao aconselhamento da prática de actividade física por parte dos profissionais de saúde. De salientar a falta de formação destes, acrescentando, por vezes, a inexistência de  hábitos de prática desportiva (dos mesmos). Todavia, hoje em dia, a sociedade encontra-se em mudança progressiva, no que se refere por exemplo à criação de hábitos de vida saudável, ou a simples cultura do desporto - pressupostos visíveis em todas as idades, estratos e em qualquer lugar do país.

É para isso, fundamental a articulação entre profissionais da saúde e do desporto, é imperiosa e urgente uma mudança de mentalidades no sentido de um incremento global da qualidade de vida do individuo. Assim sendo, é indispensável o estabelecimento de protocolos que consigam reconhecer, reunir e harmonizar os diferentes componentes inerentes a uma prescrição - valorizando a segurança e a optimização dos elementos de desempenho do próprio ser humano.

A prescrição do exercício físico deverá iniciar com a avaliação e identificação de todas as variáveis intrínsecas, para posteriormente as organizar e metodizar - tendo sempre em atenção os factores ambientais e a individualidade de cada um.

Esta avaliação inicial surge no sentido de se poder prescrever o melhor tipo de exercício físico para reduzir os riscos e melhorar os benefícios. Ou seja, é necessário algo mais do que dizer ou escrever: “Deverá fazer exercício!”… Tal como nas diversas soluções terapêuticas, deverão discriminar-se todos os aspectos inerentes, ou seja, o modo, a intensidade, o volume e a frequência do mesmo - só assim se enaltecerá  a importância da prescrição e a individualidade de cada um.

Desta forma, e tendo em conta estes pressupostos, estaremos mais perto de uma saúde plena, de uma melhor qualidade de vida e de uma maior eficiência ao nível  fisiológico. O trabalho de cooperação e de parceria são indispensáveis e deverão ser centrados na pessoa como figura única e particular.

A introdução do exercício físico na prescrição médica apresenta-se como uma das maiores possibilidades para reduzir o sedentarismo na sociedade, isto é, aperfeiçoar a capacidade de prescrição de exercício por profissionais de saúde é uma forma eficaz de elevar o estado da actividade física na população em geral.

Os centros de saúde e os seus profissionais, por estarem próximos da população, poderão desempenhar um papel de extrema importância no sentido de propiciar uma ampla mudança ao nível dos comportamentos.

É para isso necessário, imperioso e urgente a criação e o desenvolvimento de medidas para que a prescrição de exercício seja uma realidade credível. É importante estreitar pontes e laços entre estes profissionais e os de educação física, é essencial implementar, avaliar e melhorar todo o processo. A formação de todos os profissionais é indispensável.

A prescrição de exercício físico deve ser encarada como um procedimento em que se recomenda um programa de exercícios de forma sistemática e individualizada, segundo as necessidades e preferências de cada pessoa, com a finalidade de obter os maiores benefícios com os menores riscos.

Bibliografia:

Health Benefits of Physical Activity: The Evidence, Warburton; Nicol & Bredin; 2006.

Physical Activity and Psychological Well-Being; Biddle, Fox, & Boutcher; 2000.

ACSM's Guidelines for Exercise Testing and Prescription; W. Larry Kenney, Reed H.Humphrey, Cedric X. Bryant, Donald A. Mahler; ACSM - American College of Sports Medicine; 1995.

Estratégia Nacional para a Promoção da Actividade Física, da Saúde e do Bem-Estar; Ministério da Saúde; Direcção-geral da Saúde (DGS); 2016.

Global Action Plan on Physical Activity 2018–2030: More Active People for a Healthier World; World Health Organization; 2018.

Global Recommendations on Physical Activity for Health; World Health Organization; 2010.

Plano Nacional de Saúde; Direcção Geral da Saúde; 2015.

António Pedro Santos