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educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

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EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

O meu menino autista nº3

3. ACTIVIDADES – Infantário e ATL

 

Durante os primeiros anos de vida o Iuri não frequentou qualquer Infantário.

 

O pai trabalhava em casa e a mãe tinha horário de roullement o que lhe permitiu crescer no refúgio do ambiente familiar. Uma vantagem? - Talvez não... desta forma o Iúri viu-se inibido das brincadeiras, da aprendizagem e do convívio que essas instituições proporcionam.

 Passava muito tempo a brincar sozinho, na sala, em frente à televisão. Acompanhava sempre os pais nas idas às compras, ao café, a casa de familiares e amigos ou num passeio pela beira-mar, mas não tinha amigos ou familiares da sua idade com quem partilhar brincadeiras e descobertas.

O Iúri tem um irmão, quase 12 anos mais velho. O irmão assumiu para com ele um papel quase paternal e sempre tiveram óptimo relacionamento.

 

Quando os pais notaram uma alteração no comportamento do Iúri no que concerne ao desenvolvimento da fala, concluíram à cerca da necessidade dum Infantário. Inscreveram-no em várias instituições, apesar das mensalidades de algumas delas representarem um enorme esforço para os seus recursos económicos. Sucessivamente viram negada a integração da criança nessas instituições, sem que em qualquer dos casos tivessem sido reembolsados do valor da inscrição. A resposta era sempre a mesma: "não dispomos de pessoal qualificado".

Inicialmente o Iúri acompanhava os pais no acto de inscrição nos Infantários. Mostrava um grande interesse e satisfação e, nalguns casos chegou mesmo a auto-integrar-se nas actividades em curso, durante as breves visitas às instalações. Criava expectativas e mostrava-se ansioso em ingressar nesse mundo fascinante de que não dispunha em casa. Ano após ano viu esse sonho ficar cada vez mais longínquo. As sucessivas rejeições levaram os pais a desistir e a querer poupá-lo a essa humilhação e frustração.

O ingresso na vida escolar surgia a passos largos e os pais sabiam não estar a criança preparada para essa nova fase. Ele aprendeu sozinho as cores (primárias e secundárias), algumas letras e números mas, apesar disso demonstrar um interesse natural, não era suficiente. Então, através dum colega de trabalho da mãe e por especial favor, o Iúri ingressou no Infantário LATI em Setúbal, já no final do ano lectivo durante mês e meio, de 15 de Maio a 30 de Junho de 1999. A renovação da inscrição não foi aceite devido a obras de remodelação na referida instituição que acabou por se encontrar inactiva durante todo o ano lectivo que se seguiu.

Afastado do prazer que aquela experiência lhe trouxe, o Iúri foi ficando cada vez mais triste e menos participativo – desinteressado. Passava longas horas à janela a observar a rua com olhar triste e distante.

  

Pré-Escola

A família, sentindo-se frustrada e impotente resolveu mudar-se para a Marinha Grande, na expectativa de poder encontrar aí melhores condições de vida e de apoio para o Iúri, tal como vinha sendo anunciado por alguns familiares. Mas, também aí o cenário se repetiu. Estávamos em Setembro de 2000 e o Iúri, com 6 anos,  deveria dar inicio à sua escolaridade obrigatória contudo, os pais eram de opinião de que a criança não se encontrava preparada, nem a criança nem a escola. Tentaram inscrevê-la sem sucesso em todas as pré-escolas e infantários públicos da cidade; seguiram-se os colégios e instituições particulares (ex: APPACDM). Já completamente desanimados e revoltados obtiveram finalmente o apoio de que careciam junto da então Directora da Pré-Escola da Ordem, que o recebeu com todo o empenho e carinho apesar de ter uma turma super-lotada e do Iúri não pertencer à área de residência da escola.

Graças à conjugação de esforços da Directora da Pré-Escola e dos pais foi possível criar algumas condições para receber o Iúri. Foi então solicitado um ano de adiamento escolar,  uma tarefeira de apoio específico a tempo inteiro bem como o apoio de uma Técnica de Ensino Especial. Esta última funcionava num período de 3h/dia em 3 dias/semana.

A Técnica de Ensino Especial, recém-formada, nas suas tarefas com a criança utilizava técnicas a raiar o desumano com as quais nem a Directora nem os pais concordavam. Por isso as relações entre eles foram ao longo desse ano lectivo sempre muito conflituosas. Frequentemente os pais foram chamados pela Directora a intervir junto da Técnica desautorizando-a de algumas atitudes e técnicas que aplicava na criança. Os pais levaram estes factos ao conhecimento do CAE respectivo sem no entanto terem obtido qualquer resposta.

Após o final desse ano lectivo a referida Técnica procurou a mãe, a título confidencial,  e assumiu alguns dos erros cometidos pedindo desculpas, que não foram aceites. Apesar da coragem e humildade reveladas nesse acto as suas revelações vieram comprovar as razões sentidas pelos pais mas não pouparam a criança dos maus-tratos, incompetência, humilhações a que entretanto fora sujeita e a influencia nefasta que essa experiência operou no seu comportamento.

Durante esse período ele mostrou-se sempre muito revoltado, pouco participativo e intolerante às ordens, não tendo conseguido beneficiar de todo o carinho, atenção e apoio que ali lhe fora proporcionado pelos outros elementos da escola.

 

Ocupação de Tempos Livres

Perante a dificuldade em conciliar os horários de trabalho dos pais e os horários escolares, o Iúri passou a frequentar, a título excepcional (porque a mãe era assistente  administrativa numa Escola Básica 2º e 3º Ciclos em Leiria),  uma instituição particular que se ocupava do período de almoço e dos tempos livres no período da tarde, das 15,30h às 18h. À excepção de, com alguma frequência, encontrar o Iúri choroso e triste, tudo parecia correr dentro da normalidade. Quando inquirida sobre os motivos destas ocorrências a Directora da instituição sempre dizia que não sabia o que se passava, pois ele chorava sem motivo e por vezes esse comportamento acabava por interferir com o normal funcionamento das salas de estudo.

Após cerca de um ano de frequência nessa instituição, os pais receberam relatos de alguns ex-funcionários sobre o que na realidade lá se passava, relativamente ao tratamento dado ao Iúri. Segundo os mesmos, porque a criança não fala, os pais ficaram a saber que a criança era afastada do grande grupo e respectivas actividades, era alvo de ofensas verbais infligidas não só por algumas funcionárias e directora como pela maioria dos colegas, pelo que: se refugiava no Berçário sob a protecção da responsável por aquele espaço; era colocada de castigo no hall de entrada sendo objecto de avaliação e tema de conversa dos pais das outras crianças; que a sua alimentação se resumia a 2 iogurtes que ele próprio ía buscar à cozinha, por não dispor de tempo suficiente para tomar a sua refeição no refeitório; que um dos motoristas da instituição o levava consigo enquanto procedia à recolha de outras crianças nas diversas instituições da cidade para o proteger dos abusos e humilhações a que era sujeito na instituição.

Simultaneamente surgem informações de auxiliares da Escola Básica - 1º Ciclo que então frequentava, que comprovavam não dispor a criança de tempo suficiente para almoçar - era sempre o ultimo a ser recolhido para o almoço e o primeiro a chegar à escola para iniciar o período da tarde.

Na posse destas informações a mãe preparava-se para confrontar a Directora mas, nesse mesmo dia foi informada por uma auxiliar de educação da Escola que a motorista da referida instituição havia transmitido que o Iúri deixara de a frequentar e a partir daquele dia deixaria de estar à sua responsabilidade. Indignada com tal atitude e não tendo sido contactada ou informada por quem de direito a mãe dirigiu-se à Instituição à procura de uma justificação, tendo encontrado o acesso negado às instalações e os haveres pessoais da criança (mochila, ferramentas de trabalho e roupas) despejados no chão, junto à porta principal no exterior. Apesar da elevada mensalidade que ali era cobrada (sem recibo) e escrupulosamente liquidada, a mãe não recebeu qualquer justificação para este desprezível e desumano acto.

No ano seguinte o Iúri foi inscrito numa outra instituição privada, Centro de Ocupação de Tempos Livres da Associação Recreativa de (...). Também aqui a instituição procedia à recolha das crianças nas respectivas escolas mas, ao 2º dia o Iúri foi ignorado pelo motorista, tendo sido acolhido pela sua professora e devolvido aos pais no seu local de trabalho. A mãe dirigiu-se à Directora do referido Centro supondo tratar-se dum esquecimento. Foi então informada que os pais das outras crianças haviam reunido extraordinariamente na noite anterior onde deliberaram unanimemente e exclusão do Iúri. Inquirida pela ausência de aviso prévio aos pais a Directora justificou-se com o facto do Iúri ter chorado durante toda a sua estadia no dia anterior (1º dia) e acrescentou rematando: "quem tem filhos anormais que os ature".

De salientar que nesse 1º dia, o Iúri não foi integrado nas actividades do grupo tendo sido mantido no hall de entrada sujeito a comentários pouco simpáticos de vários pais de outras crianças que por lá iam passando.

Através da mãe dum colega de escola do Iúri, os pais tiveram conhecimento da existência de instituição pública (na altura recente) destinada a dar apoio a crianças com défice de aprendizagem e outros distúrbios do desenvolvimento, constituída por uma equipa multidisciplinar - técnicos de ensino especial, psicólogos e terapeuta de fala, entre outros. A mãe contactou a instituição "Casa dos Afectos", assim designada, e após várias tentativas conseguiu finalmente uma entrevista com a Responsável. Após um longo inquérito foi remetida para a "lista de espera", no entanto, tratando-se de um caso que requeria alguma urgência o mesmo iria ser assunto de uma reunião extraordinária, cuja deliberação seria transmitida aos pais na semana seguinte.

Várias semanas passaram sem que houvesse qualquer contacto. De novo, a mãe contactou a instituição e após várias tentativas foi informada que as inscrições naquela instituição deveriam ser requisitadas pela Escola que a criança frequentava. Na posse desta informação a mãe dirigiu-se à Directora da Escola e solicitou a inscrição da criança naquela Instituição, tendo obtido a garantia do empenhamento pessoal no tratamento da acção necessária para o efeito.

O ano lectivo findou, o seguinte iniciou e as notícias não chegaram. Mais uma vez, a mãe dirigiu-se à Casa dos Afectos, tendo sido recebida pela psicóloga e directora daquele espaço. Foi informada que não existia qualquer inscrição para o Iúri mas, perante a sua exposição foi-lhe prometida a integração da criança naquela instituição com a maior brevidade possível; foram-lhe fornecidos contactos da psicóloga e de algumas mães de crianças autistas, promovendo o encontro e realçando a importância da partilha de experiências comuns; foi também sugerido à mãe que procurasse apoio psicológico pois era visível a depressão em que se encontrava.

Foi um encontro animador. Mas a animação foi-se dissipando à medida que os dias, semanas, meses se sucediam sem qualquer resposta, favorável ou não. Todos os contactos que lhe haviam sido fornecidos se revelaram indisponíveis - nunca ninguém atendeu do outro lado.

 

Indignada, a mãe voltou a contactar a referida Instituição tendo encontrado a direcção substituída. Foi recebida por um novo elemento - Técnica de Serviço Social, que também despenhava funções na Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo - APPDA de Coimbra, tendo obtido a confirmação da integração da criança após elaboração dum Plano de Actividades. Vários contactos foram estabelecidos nesse sentido, mas nada foi feito de concreto.

A mesma Técnica acumulava funções de chefia numa outra instituição onde o Iúri poderia igualmente beneficiar de outro tipo de atendimento e de actividades que o beneficiariam, tendo sugerido a sua inscrição lá também. Assim se procedeu. O Iúri foi inscrito, foi atendido (de má vontade) pela Terapeuta de Fala que mais não fez senão queixar-se de excesso de trabalho, durante uma suposta consulta de avaliação.

Passaram-se 3 anos sobre esta ocorrência sem que se tenha registado qualquer contacto.

O Iúri não voltou a frequentar qualquer outra Instituição de Ocupação de Tempos Livres.

Dado o seu interesse pela música, tentou-se inscrever o Iúri numa instituição particular para aulas de música - viola mas, ao perceber a dificuldade do Iúri o professor mostrou-se indisponível.

 

4. ACTIVIDADE ESCOLAR

 

Ensino Básico – 1º Ciclo 

Deu início à sua actividade escolar no ano lectivo de 2001 / 2002, na Escola Básica 1º Ciclo (...) na Marinha Grande, com 7 anos. A mãe solicitou uma auxiliar de acção educativa em regime de tarefa para apoio exclusivo ao Iúri, bem como uma técnica de ensino especial que viriam a ser facultadas pelo CAE de Leiria.

Apesar de integrado na turma o Iúri dispunha de um espaço exclusivo para as suas tarefas tendo o ECAE de Leiria facultado material didáctico; promovido acções de formação para as professoras e pessoal auxiliar e constituído suporte de orientação em acções educativas.

As relações pais-escola (professores e pessoal auxiliar) nem sempre foram as melhores pois o pessoal docente não reage muito bem às intervenções e observações dos pais mais atentos e exigentes, motivo pelo qual a mãe passou a ver a sua entrada na escola limitada a horários rígidos e específicos, ficando assim inibida de uma acção mais participativa na evolução escolar do Iuri.

Inseridas no Plano Educativo dos 1º + 2º anos  e dos 3º + 4º anos foram ministradas aulas de judo e natação respectivamente, com periodicidade semanal (das 10h às 11h – 6ª feira).

Nas aulas de judo o Iúri não era integrado no grupo. Era isolado da turma imitando apenas alguns movimentos com o apoio da auxiliar tarefeira, uma vez que o monitor não concordava com a sua presença no ginásio por supostamente distrair os colegas e prejudicar o decurso das aulas.

No 3º ano e relativamente à natação (ministrada nas instalações da Piscina Municipal) o Iuri foi afastado dessa actividade por recusa do monitor, tendo assistido apenas à 1ª aula (muito embora as professoras afirmassem que ele assistiu a várias aulas e que se recusou a participar). Após muita insistência da mãe junto de várias entidades tais como: CAEL; DREC; Ministério da Educação; Câmara Municipal da Marinha Grande, por intervenção desta última foi possível, já no 4º ano, a sua integração nessas aulas sob a orientação de um monitor disponibilizado para o efeito pelo CAEL, tornando-se essa actividade numa das preferidas do Iuri tendo a todos surpreendido pelo seu bom comportamento e entusiasmo.

 

Ensino Básico – 2º Ciclo


Iniciou o 2º Ciclo no ano lectivo de 2005/2006, no Agrupamento de Escolas (...) na Marinha Grande. Para o receber foi criada uma Sala Estruturada, que divide com 2 colegas com patologias em tudo diferentes da sua e naturalmente com necessidades também elas diferentes (Síndrome de Angelman e Trissomia 21).
Esta Sala conta com o apoio de uma Técnica do Ensino Especial e 3 Auxiliares de Acção Educativa (tarefeiras).



Disposição da Sala Estruturada (cerca de 40m2):

·    3 áreas semi-privadas de trabalho (1 para cada aluno)

·    1 área comum


Actualmente, 2006/2007, o Iúri frequenta o 6º.ano. Na Sala Estruturada, para além da aprendizagem da Língua Portuguesa, Matemática (8h/semana) e Informática (2h/semana) de uma forma simplificada; com reforço do professor da respectiva disciplina tem ainda:

·    Educação Musical  - 4 h/semana

·    Psicomotricidade - 2 h/semana

·    Educação Visual e Tecnológica - 2 h/semana

·    Educação Física (no Ginásio) - 2 h/semana

·    Natação (na Piscina Municipal; transporte a cargo da Escola) - 2 h/semana

Com a Turma:

·    Educação Visual e Tecnológica - 4 h/semana

·    Educação Musical - 1 h/semana

Ao abrigo dum Protocolo da Escola com a APPACDM da Marinha Grande, em que o transporte é assegurado pela Encarregada de Educação (mãe):

·    BOCCIA  - 1 h/semana

·    Terapia da Fala (individual) - 1 h/semana

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