Hiperactividade 4
...A Memória...
³ Reconheça que grande parte das crianças com DHDA tem dificuldades na memória.
³ Dê ênfase a palavras-chave e sugira aos alunos que as repitam em coro. Também pode ilustrar a palavra com desenhos no quadro.
³ Ensine truques como mnemónicas.
³ Ajude a criança com rimas, dê-lhe deixas, associe acontecimentos a canções conhecidas.
³ No final da aula, peça aos alunos que escrevam pequenos resumos da matéria dada.
...A Responsabilidade...
³ As responsabilidades de cada aluno devem ser afixadas num placard na sala de aula.
³ Promova actividades de responsabilidade, como arrumar o material, distribuir folhas pela turma, arrumar a sala, fazer recados, apagar o quadro, regar plantas, conduzir a assembleia da turma, cuidar da biblioteca da turma, ajudar a organizar excursões. Também pode sugerir ao aluno que escreva no quadro palavras-chave da matéria à medida que a aula prossegue.
³ Estimule o aluno a cuidar dos seus livros e cadernos, oferecendo sempre reforço positivo sempre que o aluno tem o seu material escolar bem organizado.
³ Promova situações de auto-questionamento e auto-avaliação (O que tenho de fazer? Por onde vou começar? Quais são as etapas? Devia ter feito isto? O que deveria ter feito?).
… A Matéria …
³ Em comparação com outras crianças, os alunos com DHDA têm mais dificuldade em resolver problemas matemáticos, pois não conseguem organizar o pensamento e têm dificuldade em aprender com os erros cometidos no passado. Sempre que tentam resolver problemas, tendem a dar a resposta sem pensar. O professor deve ajudar o aluno a dividir a resolução do problema por etapas sucessivas.
³ A área verbal também é afectada pelo DHDA. Apesar de parecerem bastante à vontade a falar, quando se trata de passar a informação para o papel, esta tarefa torna-se muito difícil. O treino com o uso inicial do computador pode ser bastante útil.
³ Estas crianças têm tendência para falta de precisão na leitura. O professor deve sugerir que a criança leia textos pequenos, numa fase inicial e aumentar o seu tamanho e grau de dificuldade progressivamente. A criança também deve treinar a velocidade da leitura.
³ O professor deve ter em atenção que os testes de escolha múltipla podem não ser o melhor método de avaliação de um aluno com DHDA. Estas crianças têm tendência para ficar confusas e assinalar a opção errada, ou podem ficar frustradas e assinalar os itens sem os ler.
...A Motivação Para a Aprendizagem...
³ Ofereça aos seus alunos um ensino activo, participativo e de descoberta, em que eles próprios se empenhem em obter novos conhecimentos e onde tenham a noção de que são realmente capazes de aprender.
³ Ajude a criança a sentir prazer por estar na sala de aula. Procure criar situações agradáveis de aprendizagem aliadas, sempre que possível a actividades lúdicas.
³ Explique aos alunos qual a importância da matéria que vai dar.
³ Seja divertido, inovador e pouco convencional. As crianças com hiperactividade detestam professores maçadores. Mostre-lhe que também sabe brincar.
³ Comece a aula com uma brincadeira. Conte uma história, leve um objecto relevante para a aula numa caixa e aproveite para despertar a curiosidade dos alunos. Se estiver a utilizar o retroprojector inicie a aula com uma imagem divertida.
³ Interrompa as lições demasiado longas com pequenos intervalos. Alguns autores defendem que a exposição do professor não deve ocupar mais de um minuto e meio por cada ano de idade do aluno. Assim, uma turma com alunos de 10 anos tem dificuldade em ouvir o professor mais do que 15 minutos seguidos. Este tempo diminui ainda mais se os alunos forem hiperactivos.
³ Procure negociar com a criança os limites de tempo para a realização de cada tarefa.
³ Evite desenvolver demasiado os temas, com exposições excessivamente teóricas e longas. Dê exemplos originais.
³ Explique aos alunos qual é o objectivo de cada teste e quais as áreas que pretende que os alunos retenham na memória.
³ Prefira a realização de vários mini-testes entre os testes principais.
³ Durante os momentos de estudo ou de realização de exercícios, coloque música clássica como música de fundo. O som de fundo pode ser relaxante e evitar que outros sons possam distrair a criança. Evite o volume de som demasiado elevado.
³ Sempre que possível, leve convidados para a sala de aula, sempre que exista alguma relação entre as suas actividades e os temas expostos na aula.
³ Sugira actividades apelativas e variadas, como puzzles, labirintos e jogos. Recorra a apoio visual durante as aulas.
³ Utilize guias de estudo, com lacunas que serão preenchidas pelos alunos enquanto a aula decorre.
³ Antes de iniciar uma nova matéria faça revisões, certifique-se que o aluno compreendeu, domina a matéria anterior e já adquiriu as competências básicas no domínio da nova matéria.
³ Dê tempo suficiente para o aluno praticar a matéria dada. Procure que ele faça exercícios, orientando-o sempre que ele tem dificuldades. Dê-lhe feedback e informe-o se considera se ele já domina a matéria ou se necessita de estudar mais.
...O Comportamento...
³ A criança com DHDA tem tendência para agir sem pensar, apresentando dificuldades em entender relações causa-efeito.
³ Afirme assertivamente o que a criança deve fazer (“volta imediatamente para o trabalho”) e não se limite a comentar o que a criança está a fazer (“não estás a prestar atenção”).
³ Registe o comportamento do aluno (adequado ou não), para posteriormente avaliar se houve evolução.
³ Sempre que o aluno esteja a perturbar o funcionamento da aula (como por exemplo, fazer barulho batendo com objectos uns nos outros) introduza na aula um momento de silêncio absoluto, convidando os colegas a prestar atenção ao ruído que ele está a provocar.
³ Sempre que fizer uma pergunta ao aluno com DHDA, peça-lhe que espere 15 segundos até dar a resposta, assim evita responder sem pensar.
³ Valorize as actividades motoras, de modo a evitar longos períodos de permanência à mesa ou sentado.
³ Permita que o aluno possa levantar-se da cadeira para distribuir papéis ou escrever no quadro.
...Os Colegas...
³ A criança com DHDA tem dificuldades de relacionamento com os pares. O seu comportamento impulsivo nem sempre é aceite e entendido pelos outros.
³ Informe a turma sobre os problemas das crianças hiperactivas e procure envolvê-los numa dinâmica de grupo, para que todos se empenhem em melhorar o ambiente da sala de aula.
³ Facilite a proximidade do aluno com um colega com o qual estabeleceu uma relação afectiva privilegiada e que represente, de alguma forma, um “modelo de produtividade e cooperação”.
³ Permita que os alunos sem dificuldades tenham o papel de explicadores, principalmente em tarefas cujo objectivo é fazer revisões ou praticar a matéria leccionada.
³ O aluno com DHDA deve ser ajudado pelos colegas que têm melhores resultados escolares. A criança com DHDA também deve ser estimulada a ajudar as outras crianças.
³ Separe os grupos que não funcionam bem. Procure novos grupos até encontrar um grupo com quem a criança funcione bem. Os grupos pequenos de estudo e de brincadeira são os mais adequados.
...Os TPC...
³ Nos TPC, reporte-se apenas aos conteúdos apresentados em cada aula e que permitam a revisão da matéria dada.
³ Fale com a família sobre a sua disponibilidade em ajudar e supervisionar a criança na realização dos TPC. Certifique-se que a criança terá tempo suficiente para os realizar.
³ Faça propostas apelativas e lúdicas, que saiba que o aluno vai conseguir fazer sozinho, sem precisar que alguém os faça por ele ou sem precisar de os copiar por outro colega.
³ No início, peça ao aluno para elaborar tarefas menos complicadas. Divida as tarefas em pequenas parcelas e permita que, no início, a quantidade de tarefas do aluno seja menor comparada com as tarefas dos restantes alunos da turma. A realização deste tipo de actividades vai aumentar a sua motivação para estudar e melhorar a auto-estima. Aumente o grau de dificuldade progressivamente.
³ Corrija sempre os TPC dando imediatamente o reforço positivo ou negativo, conforme o caso. Dê valor não só à qualidade do trabalho, mas também ao esforço realizado (mesmo que os exercícios não estejam totalmente correctos).
³ Tenha em conta os conhecimentos do aluno, assim como as suas capacidades de realização das tarefas propostas.
...A Família...
³ Certifique-se que a família está a trabalhar consigo. Combine encontros frequentes, fale sobre os progressos e evite que os encontros sejam sempre sinónimo de denúncia de problemas ou crises.
³ Procure enviar à família uma lista com o TPC a realizar durante a semana, os objectivos a atingir e as datas das avaliações. Notifique imediatamente a família (por telefone ou e-mail) sempre que os TPC estão atrasados ou incompletos.
³ Registe os progressos do aluno e comunique-os à família. Comunique com a família não só quando a criança não atinge os objectivos, mas também quando se esforçou para melhorar.
³ Certifique-se que os pais têm conhecimento dos recados que lhes envia.
Conclusão
Sem querer substituir a vasta literatura que existe hoje em dia sobre esta temática, esperamos que este caderno de apoio seja útil para o trabalho no dia-a-dia com os alunos hiperactivos e que seja utilizado como um pequeno resumo das estratégias que são actualmente consideradas mais eficazes na mudança de comportamento destas crianças.
Se tivermos em conta que as crianças passam grande parte do seu tempo na escola, podemos afirmar que o papel do professor é de extrema importância e a sua colaboração é fundamental. Certifique-se, desde o início, que não está a trabalhar sozinho e solicite a ajuda de outros colegas que tenham experiência com crianças hiperactivas. Comunique regularmente com a família e com os técnicos de saúde que acompanham o seu aluno.
Referências
American Psychiatric Association (1994). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (4th ed.). Washington, DC: Author.
Fonseca, A. (1998). Problemas de Atenção e Hiperactividade na Criança e no Adolescente: Questões e Perspectivas Actuais. Psychologica 19 7-41.
Fonseca, A. & Cols. (1998). Hiperactividade na Comunidade e Hiperactividade em meio clínico: Semelhanças e diferenças. Psychologica, 19 111-122.
Hallowell & Cols (1992). Distúrbios Graves de Atenção (DGA) na Sala de Aula. In Internet for Minessota Schools Project.
Phelan, T. (1991)Transtorno de Déficit de Atenção. In Entrevista Clínica e Diagnóstica (pp. 317-339): Porto Alegre. Artes Médicas.
Rebelo, J. (1997). Como ajudar alunos com hiperactividade nas escolas. Psychologica, 19 165-198.
Silva, M. (1997). Avaliação Intervenção em Crianças com Distúrbio Hiperactivo por Défice de Atenção. Integrar, 13 15-20.
Simões, M. (1998). Avaliação Psicológica e Diagnóstico na Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção- Entrevistas. Psychologica, 19 43-82.
Simões, M. (1998). Avaliação Psicológica e Diagnóstico no Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção- Escalas de Avaliação. Psychologica, 19 83-109.
Toro, J. (1998). Psiquiatría de la infancia y la adolescencia. In Introducción a la Psicopatología y la Psiquiatría (pp. 867-894): Barcelona. Masson
Wright, J. (1995). ADHD: A School-Based Evaluation Manual [Electronic version].
Autoria: Sónia Pereira (Psicóloga)
Data: 2005