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educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

A braços com a Loucura. Ou melhor... Ensaiando

III

Ao sair dali... Pedro teria de fazer duas coisas... Telefonar para o sindicato e arranjar um quarto ou uma casa para pernoitar...

Por sugestão de Luz... Que o acompanhou... Acabou por ficar numa água furtada de um prédio velho de dois andares... Um quarto composto por uma cama... Uma janela e uma pequena cozinha... Tudo na mesma divisão... Para lá chegar... Tinha de subir as escadas em caracol e aceder a um pequeno terraço... Onde posteriormente encontrava a porta do seu novo abrigo... Uma pequena arrecadação remodelada e transformada num estúdio para alugar...

A casa tinha um aspecto triste... Todavia... Pedro deslumbrou-se com a vista... Daquele terraço e daquela janela poderia avistar grande parte da cidade... Ao longe o rio desembocando no mar... Antes o cais desactivado... Numa calçada de esplanadas de cafés... Visando a caça ao turista e ao veraneante...

O casario envelhecido... Perdia-se no silêncio daquela paisagem... Que mesmo assim... No ruído natural da cidade... Emudecia com respeito o presente... Em detrimento de um pretérito... Há muito passado e vivido... Desde o tempo em que o centro da cidade era por ali... Em que as gentes passeavam descalças ou mal calçadas... Rua acima e rua abaixo... Na amplitude das mesmas... Mal vestidas... Transportavam desejos e espraiavam a fome... Sem automóveis...

Bicicletas e animais povoavam a calçada de paralelepípedo... Na venda do peixe... À cabeça e ao balde... A dinheiro ou por troca directa... Entremeavam-se negócios e trocavam-se juras de fidelidade... Ou de honradez... Laços de afecto... Brigas e amor proibido... Ao olhar dos mais velhos... Antes personagens principais... Depois castradores e inquisidores de boas maneiras... Costumes de gentes do mar e do rio... Onde as gerações cresceram... Absorvidas pelas transformações de uma sociedade modernamente irresistível...

- Acho que aqui ficas bem! – Afirmou Luz... Verificando o prazer de Pedro a admirar a paisagem... – E a renda é baratinha!

Pedro sorriu e gesticulou a cabeça em sinal afirmativo...

Os olhos claros de Luz pareciam acompanhá-lo no anteparo da vista... Admiração e zelo na forma de olhar e de falar... Cabelos louros e rosto imponente... Transparência alegre…

Radiante forma de se entregar às conversas feitas de palavras... Que com jogos de toques e de gestos mimosos... Escondia a carência do seu corpo... Irrequieto e refugiado debaixo daquele enorme vestido azul... Numa dança de pés... Aprisionados nas sandálias escancaradas que trazia... Num desassossego frenético e fogoso... Como quem ama a vida... E sobretudo... Os intervenientes que a compõem...

Luz despediu-se e Pedro agradeceu-lhe por tudo...

Em seguida... Ligou para o sindicato... Expôs a situação... Contudo... Do outro lado... Alguém registou e prometeu um contacto em breve... Parece que a doutora não estava...

António Pedro Santos

(Continua)...