A braços com a Loucura. Ou melhor... Ensaiando
VI
Depois de chegarem ao primeiro piso... Luz conduziu Pedro até à sua sala... No caminho disse:
- Ainda não está aqui ninguém! As outras só chegam lá para dez e tal... É sempre assim!
- Não faz mal... Assim terei tempo para ver como é por dentro. – Afirmou...
- A chave está na cozinha! – Lembrou Bela...
Pedro seguiu-as pelo refeitório e atravessaram um balcão que o separava da cozinha...
- Bom dia Preta! – Cumprimentou Bela… – Esta é a nossa cozinheira e este é o nosso novo professor!
Pedro cumprimentou-a e esta contra-atacou Bela... Sem ligar muito ao recém-chegado:
- Grandes vidas que por aí há! Isto são horas de chegar?
- Vai pró caralho Preta! – Gritou Bela... Movimentando compulsivamente as sobrancelhas... – Vou-me vestir!
- Não ligues! – Aconselhou Luz... – Isto são só malucas!
- E tu vai-te foder! – Berrou Bela à distância... – Ai desculpe! – Corrigiu... Colocando a cabeça de fora da arrecadação... Sorrindo... – Saiu-me...
Preta olhou-o e abanou a cabeça... Num jeito desdenhoso acerca da conduta da colega...
Luz entregou a chave a Pedro e acompanhou-o à sala de aula... Nesse momento... O telefone da recepção tocou...
- Tenho de ir atender! – Disse... E enquanto isso correu em direcção às escadas... Gritando:
- Deixa-te estar à vontade!
A sala dava para um pequeno pátio... Com canteiros desactivados... A porta de madeira esverdeada tinha quatro grandes vidros... Os de baixo eram martelados e os de cima completamente transparentes…
Pedro rodou a chave e a porta não abriu... Forçou de novo e nada... A chave era grande e a porta antiquada... Só depois descobriu que teria de premir um pequeno gatilho para que esta abrisse... Mesmo assim... Tinha de se apanhar o jeito…
A porta arrastou-se pelo chão de corticite... As dobradiças chiaram... De dentro um bafo a mofo... Um sopro guardado durante as férias grandes que agora se libertava por fim…
Lá dentro... As paredes brancas variavam consoante a húmidade... Assim como… Uma ou outra pincelada artística dada por alguém no passado...
A sala era alta e tinha uma clara bóia no topo... As mesas orientavam-se para um pequeno quadro preto... As cadeiras variavam de tipos e de tamanhos... Em frente à porta... Três janelas de alto a baixo pareciam iluminar o espaço... Nas paredes... A cortiça parecia querer desagarrar-se... O cabide estava caído e o mobiliário reduzido... Estava em muito mau estado... Gavetas sem puxadores... Portas descaídas... Enfim... A sua mesa... Situada na frente do quadro... Era pouco maior que a dos alunos... Pedro sentou-se e abriu as gavetas... Encontrou material escolar estragado... Restos de lixo... Folhas amachucadas...
“Se cá ficar!”... Pensou para si... Como se ainda não acreditasse muito... Afinal... Ainda aguardava o tal telefonema do sindicato... Era imperioso que tivesse contagem do tempo de serviço para efeitos de concursos futuros e progressão na carreira...
Mas... Na verdade… Pedro estava descontraído... Não tinha nada a perder... Geralmente nunca trabalhava tão cedo... Nunca antes de Outubro... Novembro e até Janeiro... O máximo que podia acontecer era voltar para casa e aguardar por uma chamada do ministério da educação...
- É o novo professor? – Interrompeu uma voz delicada...
Pedro reergueu-se da secretária... Cessando a sua divagação e respondeu:
- Sim sou eu!
A mulher entrou na sala e apresentou-se como sendo a professora do ano lectivo transacto... Chamava-se Elisa... Estatura baixa... Pele morena e olhos escuros... Talvez da idade de Pedro... Vestia uma roupa demasiado conservadora para a sua faixa etária... Uma espécie de um fato azul-escuro... Provavelmente pouco confortável para um fim de Verão cheio de calor...
- Vim informá-lo que vamos ter uma reunião geral na sala da psicóloga! – Participou... Com uma dicção tão cuidada... Que parecia sacrificada por uma doença qualquer...
Pedro corrigiu-a... Pedindo que esta o tratasse por tu...
- Ai… Chegaste primeiro! – Exclamou Luz da entrada da porta... – Eu é que vinha chamar o professor! – Disse... Em jeito de graça... Provavelmente para atrapalhar Elisa...
A qual o olhou… Efectuando uma expressão de seca... Mas Luz continuou:
- Sempre a tentar antecipar-se! Esta gente! – Generalizou... Olhando o docente e piscando um dos olhos...
A elocução de Elisa pareceu ainda mais débil... Uma expressão do pensamento por palavras... Que se tornou mais lenta e lerda que há pouco...
Pedro disfarçou o momento dizendo:
- Onde é a sala da psicóloga?
Enfim... Acabou por segui-las para a reunião onde iria ser formalmente apresentado aos restantes colegas... E... Embora a sua situação ainda não estivesse bem definida... Pedro lá foi...
António Pedro Santos
(Continua)...