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educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

A braços com a Loucura. Ou melhor ... Ensaiando

XII

Ao longo dessa semana... Pedro efectuou um trabalho de acompanhamento e de observação dos alunos... Com pequenas tarefas... Grupos improvisados... Aplicou actividades... Fichas e exercícios... No sentido de os avaliar…

Durante esse mesmo tempo... Apareceram-lhe mais alunos que não compareceram no primeiro dia de aulas... Como... Bebé... Uma aluna com síndrome de down... Muito amorosa e sociável... Ramos e Samuel... Entre outros...

O novo professor contactou ainda com os alunos de Elisa: Sónia... Andreia... André e Márcio... Que eram irmãos e quase idênticos... Havia quem lhes chamasse clones...

Conheceu ainda a Tatiana... O Hélio e o Zé... Mais limitados que os anteriores... E ainda... Miguel... Salvador... Bento... Ruben e Rafael... Alunos multideficientes... Que por e simplesmente quase não comunicavam... Apenas um olhar… Um sorriso ou um choro…

De certa forma… Este tipo de  miúdos chocaram-no… No fundo… Eram algo fora da sua realidade e provavelmente… Completamente à parte da de todos…

A directora avisara-o que iriam chegar mais alunos...

Durante essa semana... Inventariou os recursos humanos... Assim como... Os materiais e espaciais...

Efectuou uma lista de alunos... Actualizada... Nome completo e respectivos encarregados de educação... Idade e data de nascimento... Morada e contacto telefónico... Problemática ou síndrome... Estruturou o seu próprio horário de intervenção... Organizando pequenos grupos consoante as dificuldades e capacidades dos alunos...

Pedro entrava diariamente às nove e meia e terminava por volta das quinze e trinta minutos... Um total de cinco horas lectivas... Com uma de almoço...

Criou três grupos para aquilo que no colégio chamavam de escolaridade... Isto é... Em contexto de sala de aula... Estes alunos trabalhariam conteúdos académicos adequados ao seu nível... Assim como competências funcionais…

No primeiro grupo... Colocou os alunos com maiores dificuldades cognitivas... No sentido de beneficiarem de uma estimulação inicial... No que concerne à introdução da leitura e da escrita... Cálculo e números... Eram eles... Filipe e Carrapito... Bebé e Cristina... Ramos e Samuel... E Fábio… Que havia faltado à apresentação…

Estaria com eles às segundas... Quartas e sextas...

O grupo número dois... Era composto de alunos mais velhos que os primeiros... Foi complicado conseguir que estes beneficiassem desta única sessão semanal... À terça-feira... Visto que... Para muitos dos técnicos... Estes alunos pouco mais iriam desenvolver... Mas Pedro conseguiu-o... Afinal... Tinha o apoio de Dona Filó... Seria simplesmente um trabalho de manutenção das aquisições adquiridas...

Desse grupo... Constavam... Bruninho... Ronaldo e Sarita... Maura e Mário… João e Raquel... Cláudia e Ângela... Estas últimas também faltaram ao dia da apresentação…

O terceiro grupo de alunos... À quinta-feira... Reunia aqueles que... Segundo as observações do novo professor e a opinião dos restantes técnicos... Tinham melhores condições para efectuar maiores conquistas académicas… Não seriam maiores pelo tamanho... Seriam apenas diferentes das dos outros... Todas elas pertinentes e importantes para o desenvolvimento pessoal e social dos mesmos... Eram... O Teófilo... A Patrícia... A Ana e o Luís... A Ilda... Que era irmã da Angela... Do grupo número dois... Parece que não se davam muito bem... O Virgílio… A Rosa... Que também tinha faltado no primeiro dia… O Roberto e o Carlos...

Depois do almoço... Que seria no refeitório do colégio... Aliás... Uma forma inteligente de não lhe pagarem o subsídio de alimentação... Pedro realizaria sessões de psicomotricidade e de educação física... Aqui os grupos seriam mais reduzidos... Com duas aulas semanais cada...

Segunda... Durante a tarde atenderia duas classes de alunos... Aí faria psicomotricidade... E teria de abranger os restantes alunos da escola... No primeiro tinha a Sónia... Que cada vez que o via lhe dava um beijo... Os dois clones... A Tatiana e a Andreia... O Hélio e o Zé... Os únicos alunos de raça negra... Seria à segunda e à quarta...

O segundo grupo... Era composto por Cristina... Pela Bebé e Sarita... Maura e Raquel... Angela... Ana e Ilda... Segunda e quarta... Ao segundo tempo da tarde…

O terceiro grupo de psicomotricidade era constituído por Filipe e Carrapito... Fábio e Ramos... Samuel... Ronaldo... João e Bruninho... Às terças e quintas... Sempre a seguir ao almoço…

Depois... Havia um grupo de educação física... Eram alunos mais desenvoltos fisicamente... Com outras capacidades e motivações... O Teófilo e a Patrícia... Luís e o Mário... O Virgílio e a Rosa... Cláudia... Carlos e Roberto... Às terças e quintas…

Por fim... Pedro atendia ainda os alunos multideficientes... Nenhum deles falava... Todos tinham problemas graves ao nível da motricidade global e cognição... Para além disso… O domínio sensorial estava severamente afectado… O Miguel... O Salvador... Bento e Ruben... E Rafael... Por vezes um choro ou um sorriso era a única forma de comunicação...

Esta nova estrutura... Demorou cerca de uma semana até estar preparada... Tiveram de conciliar-se os respectivos espaços e os recursos humanos... Nomeadamente... A terapeuta da fala e a educadora social... A psicóloga... A educadora de infância... Que tomava conta da sala sensorial... Uma sala que atendia imensos alunos para as dimensões e condições que tinha... Auxiliada por Telma e Saudade... As oficinas... Onde os alunos desenvolviam actividades de pintura e de cerâmica... Dinamizadas por Dora e Irene...

Enfim... Pedro apercebeu-se bem da dificuldade de ser uma pessoa nova na casa... Nem todos o olhavam com bons olhos... Duvidando das suas capacidades e intenções... Mas... A verdade é que ele tinha esse poder... Enquanto director pedagógico...

Pedro procurou ignorar sempre os olhares e as conversas... Tentando levar sempre tudo a bom porto...

Introduziu horário de alunos com cores... Associando cada área de intervenção a uma cor... Embora a palavra escrita estivesse lá... Muita gente torceu o nariz... Mas a directora gostou e os miúdos pareceram perceber melhor...

Pedro necessitava de provar a si próprio que era capaz... Seria essa a única forma de merecer a confiança atribuída...

António Pedro Santos

(Continua)...