A braços com a Loucura. Ou melhor... Ensaiando
XIX
Nessa noite... Depois do jantar... Pedro sentou-se no terraço... Para alinhavar as coisas para o dia seguinte... Ou como dizem os entendidos… Planificar…
O quase terminar de uma semana inteira... Permitia-lhe agora conhecer o contexto da escola... Os alunos e as suas dificuldades... Ou melhor... Algumas delas... Até porque os mesmos variavam demasiado as atitudes e os comportamentos...
O estar ali... Distante e quase ausente da sociedade... Num processo de ensino diferente... Separatista e desviado... Das outras crianças e jovens... Nascidos no mesmo país... Com os mesmos direitos... De por exemplo... Beneficiar de uma educação que respeite a diferença... Inclusiva e mais justa... Enfim…
Ao longe a lua imperava... A paisagem deslumbrante... Engrandecia a mente de conhecimento…
Controvérsia social moderna... Que exclui e afasta os seus próprios filhos... Escondendo-os dos outros por serem diferentes... Em asilos... Hospícios e manicómios... Como se não existissem...
Alegando a falta de preparo e de condições... Numa história ainda pior que pouco evoluiu…
Instituições de tratamento de outro entrecho... Teia inseparável do pensamento social... Da ciência... Das doenças e dos doentes mentais... De ontem e de hoje... Camisas-de-força... Prisões e jaulas... Acolchoadas e separadas... Na solidão obscura... Onde se apura o descontrole e a loucura…
Choques eléctricos... Torturas ao cérebro e no corpo... De um ser humano com direitos à luz da constituição... De ontem e de hoje... No século dezanove... Na república... No estado novo ou mesmo depois do vinte e cinco de Abril... Tudo evoluiu... Mas pouco mudou para esta gente...
Pedro observa a vista e divaga... O cigarro consome-se pelo vento e pelo esquecimento...
Ao fim de quase uma semana de trabalho... O professor parecia apaixonado por aqueles alunos... Pelo espaço e pela sua história... Sentindo-se um privilegiado por ali estar e viver tudo aquilo...
Pedro trava o cigarro e expande o fumo para bem longe... Participando como um artista... Que pinta e instala um componente mais... Naquela cópia de deslumbro... Como tantas outras... Diárias e tão dissemelhantes... Todos dias tão únicas e empolgantes... Que ainda assim… Parecem passar bem longe aos olhos de quem por aí anda... Num encerrar de um dia que já foi... E na preparação de um novo amanhã...
António Pedro Santos
(Continua)...