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educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

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EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

A braços com a Loucura. Ou melhor... Ensaiando

XXXVII

Ao longo da sua actividade lectiva... Pedro constatou que existiam imensos problemas relacionados com a integração dos jovens com deficiência na sociedade... O fraco  nível de leitura... Ou ausência total... Era um deles...

Era importante o desenvolvimento das competências de leitura... Assim como da sua  compreensão... Só assim se conseguiria uma maior autonomia pessoal e social e consequente sucesso escolar...

A leitura está dependente de um relacionamento saudável entre as actividades do pensamento... Só dinamizando mentalmente as composições cognitivas... Acrescendo competências e invertendo comportamentos... O indivíduo conseguirá de facto aprender... Delineando a sua própria experiência de vida...

A leitura e a escrita funcional... Era algo que Pedro ouvia falar... Contudo... A sua formação era muito parca nesse sentido... Porém... E na verdade... A sua investigação frequente era deliciosa... Cada dia o cativava mais e mais...

A angustia da prática e a impotência que dela surgiu... Abriam à necessidade de saber um caminho... Absorvente e encantador...

O professor percebeu que era mais fácil para a maioria dos alunos... A utilização... Na escrita... Das letras de máquina maiúsculas... Sobretudo aqueles que tinham maiores dificuldades ao nível da motricidade fina... Como tal... Elaborou uma tira de papel para cada aluno... Que os acompanhava sempre... Com o nome completo... Idade... Data de nascimento e residência...

Esta ferramenta de trabalho foi realizada no computador... Com a ajuda de Teófilo...

Utilizou-se na sala de escolaridade e na sala de estimulação global II... Onde os alunos eram convidados a realizar como actividade inicial... No caderno de trabalho...

Naturalmente... A maior parte dos alunos foi aprendendo e realizando esta aquisição aparentemente simples...

Lentamente... Foi também percebendo... Que o chamado  ensino normal da leitura e da escrita... Não funcionava para todos...

Inicialmente foi muito trabalhoso e experimentou vários métodos... Mas primeiro teve de os aprender...

O método sintético... É o método que se começa com o esboço independente de cada letra... Devendo ser realizada dentro de um espaço limitado e criado para o efeito...

No fundo... Depois de se conhecer a sonoridade de cada uma... De saber reproduzi-las no papel... Espera-se que o aluno já saiba ler... Pois basta juntar as letras e decifrá-las.

No método analítico ou global... O aluno começa por assimilar um texto escrito... Decorando-o... Posteriormente... Tendo em conta as suas capacidades e engenho... Vai tirando conclusões...

Escreve letras e palavras sem as diferenciar... Não existem linhas e o caderno é um espaço de ampla criação... Realça-se a importância da significação do que se escreveu...

O método natural aborda a globalidade... O aluno aprende livremente... Ou melhor... Naturalmente... De acordo com os seus interesses... São compostas pequenas frases... Lidas e reproduzidas... Realiza-se uma compilação de cada situação... Exercitando desta forma... A leitura e a escrita...

Com o tempo... Correram diversas opiniões de que o método perfeito não seria puro... Mas sim composto de algumas fusões com outros... Misturando correntes e formas de trabalho...

Apareceram os métodos mistos... Ou seja... Vários métodos de iniciação da leitura e da escrita... Consoante as situações e as circunstâncias...

No método das vinte e oito palavras... São contextualizadas... De acordo com uma progressão pedagógica... Vinte e oito palavras... Que vão sendo estudadas e globalizadas... Lidas e escritas pelos alunos... Analisando cada palavra até à sílaba.

O método João de Deus apresenta as dificuldades da língua de uma forma gradativa... Visão das letras... Sons correspondentes... Leitura de palavras...

Os casos de leitura e as suas especificidades são abordados de acordo com um processo estruturado... O aluno tem um papel de extrema importância na descoberta de que a disposição da letra na palavra determina o seu valor em termos sonoros... Vai assimilando códigos e vai evoluindo de uma forma consertada...

Com o tempo... Começou  a chegar à conclusão... Que a sua intervenção espontânea... Não estava assim tão fora da realidade... Pois... Pedro utilizou vários métodos... Alguns deles em simultâneo... Fundindo utilidades comuns entre eles... De acordo com as capacidades... Dificuldades e necessidades dos alunos...

Paralelamente... Foi criado um arquivo de ficheiros de leitura funcional... Isto é... Actividades de leitura e escrita prática... Como os meses do ano e os dias da semana... A localidade... As vilas... Cidades e aldeias... Os serviços... Os correios... Bancos e câmaras municipais... Centros de saúde... E mais...

Nesta área... Em articulação com a educadora social... Trabalhou-se também o preenchimento... Utilização e conhecimento de boletins... Impressos e outros documentos... A consulta de horários de transportes... Postais e cartas... Facturas e talões... Cheques... Assim como outras coisas de utilização na vida quotidiana... Simulações reais da própria realidade da vida...

Facilmente... Este ficheiro auxiliava os alunos a globalizar palavras... Ou a conhecer logotipos...

De uma forma espontânea... Começaram a ler... Marcas publicitárias... Lojas e serviços... Curiosamente... Alguns deles... Ou melhor... A grande maioria... Sempre afastados da vida académica... Assim como... De tudo o que se referia à leitura e à escrita... Começaram a ter maior prazer em ler e mostrar que já sabiam... Nem que fosse de um modo ainda arcaico e inicial... Ainda que fosse de uma forma muito funcional...

A verdade é que muitos já liam... Havia sido quebrada uma enorme barreira entre o conhecimento e o desconhecimento... Um grande salto... Da sua impotência para um sentimento de quem agora sabe ser capaz... O sair da resignação... Para uma forma de estar... Aberta... Atenta e viva... A simples postura e a pose de segurar uma folha... Ainda que se fingisse conseguir ler...

Outra das coisas que contribuiu para isto... Foi a identificação dos espaços... Que o professor já tinha feito... E posteriormente das coisas e objectos... Isto é... De tudo o que se via dentro da escola... Por exemplo... Todas as cadeiras tinham a palavra escrita... “CADEIRA”... Fixada com papel autocolante... As mesas... A palavra... “MESA”... E mais... Nas paredes... Nas janelas e portas... Nos cadernos... Móveis e todos os objectos possíveis... Que eram muitos... Até o chão e o tecto estavam identificados...

Em pouco tempo... O professor e Teófilo... Realizaram imensas etiquetas de papel com autocolante... Que distribuíram por toda a escola... Um trabalho que nunca teve fim... Uma vez que iam sempre surgindo novas coisas...

Foram criados dossiês temáticos... Onde compilou com Teófilo... Imagens reais e outras desenhadas... Com a palavra por debaixo... Enfim... Uma forma prática de associarem a palavra à imagem...

Para isso... Usaram jornais... Revistas e fotografias...

Os temas eram diversos... Como... Profissões... Material escolar... Cores... Figuras e sólidos geométricos... Objectos de utilização pessoal... A casa... Os instrumentos musicais e mais...

Mais tarde surgiu a ideia de cada aluno ter o seu próprio dossiê... Ou a sua pasta... Nela concentrava-se todo o seu trabalho... Andava sempre com eles... De casa para a escola e da escola para casa...

Alguns pais passaram a ser mais atentos e empenhados... Não muitos... Pois há muito que haviam esquecido que os seus próprios filhos também tinham capacidade de se desenvolver... Enfim... Quem queria... Conseguia ver o que eles trabalhavam na escola e se quisessem poderiam trabalha-los também em casa... Estimulando-os e reforçando o seu processo ensino aprendizagem...

Iam construindo o seu próprio dicionário ilustrado... Com as suas vivências e imagens... Experiências e origens... E muitas mais coisas... Cada um decorou-o como gostou.. Ou como pôde ou conseguiu... Mais tarde... Houve quem lhe chamasse Portefólio... Ou melhor... Uma colecção de todo o trabalho que se ia realizando...

Os conteúdos trabalhados na sala de escolaridade... Assentavam muito numa metodologia funcional... Isto é... Uma escrita e uma leitura que lhes desse dignidade... Que servisse... Para a melhoria da sua imagem pessoal e consequente conquista de um lugar no campo social... Na vida e na comunidade... Como seres úteis e capazes... Merecedores de um lugar ao sol...

António Pedro Santos

(Continua)...

 

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