A braços com a Loucura. Ou melhor... Ensaiando
LVIII
A notícia caiu no colégio como uma bomba... A saída de uma portaria colocava em causa o funcionamento daquele estabelecimento de ensino...
O corte de grande parte do financiamento... Lançaria aqueles alunos e respectivas famílias para uma situação desconfortável...
Afinal... Ali... O tratamento era quase doméstico e personalizado... Todos eram ademais especiais para circular num mundo absorto e assustador... Onde se grita por socorro e se clama por protecção...
Nos dias que se seguiram... E semanas... O ambiente esteve de cortar à faca... Os funcionários choravam pelos corredores e os que não o faziam... Apresentavam rostos pesadíssimos e extraordinariamente carregados...
Durante tempos... Viveram-se momentos de incerteza e de instabilidade...
Dona Filó falou a Pedro e a Júlia... As lágrimas caíam-lhe dos olhos sem controle... Num cenário triste... Desmesurado... Lancinante e doloroso....
Aquela personalidade que sempre os habituara... Segura e forte... Parecia agora desfeita... De sonhos... De ambição e de vontade...
Pedro... Naquele tempo... Jovem e sonhador... Saiu com ideias... Medidas de excepção... Encenações mirabolantes de combate... Enfim... Estratégias vãs... Que mais tarde se verificaram infrutíferas...
Curiosamente e com o tempo... O jovem professor converteu-se à ideia de que estes alunos deveriam funcionar em plena inclusão e integração na escola pública... Com os devidos apoios e estruturas... Recursos... Isto é... No mesmo local que os alunos... Habitualmente denominados de normais... Na mesma escola e espaço... Ainda que... Beneficiando de medidas próprias... Conteúdos... Objectivos... Orientados e prescritivos... Tendo em conta... As suas limitações... Necessidades e capacidades...
De um modo geral... Pedro acreditou sempre... Na invasão da sociedade... Quebrando paredes e ultrapassando muros... Obstáculos que no fundo.. Jamais deveriam existir...
Se estes alunos e os outros... Fossem criados desde pequenos juntos... Desenvolvendo a tolerância... A solidariedade e o respeito pela diferença... Viveriam desde crianças e jovens... A partilhar os recreios... Os refeitórios... Ginásios e salas de aula... Unitários e amigos...
Os mais limitados evoluiriam com os mais desenvoltos... E isso... Pedro conseguiu constatar no próprio colégio... O que faria se fosse numa escola do ensino regular...
Pedro lembrou-se de mandar para a direcção regional... Ministério da educação e câmara municipal... Um pacote... Ou melhor... Um embrulho decorado pelos alunos... Dizendo no exterior: “Não nos deixem fechar!”...
Este... Era composto de excertos de actividades e algum historial da escola... Como... Jornais... Obras de arte... Investigações e trabalhos... Assim como... O espelho da relação com a comunidade... E mais... Muito mais... Divulgando o estabelecimento e promovendo no exterior a sua importância para aqueles alunos...
Com isto... Julgava ele... Sensibilizar consciências e ganhar espaço como centro de referência... Enfim... O ministério da educação nunca chegou a dar resposta...
Para além esta inciativa... Endereçaram-se convites a estas entidades e outras... Para que visitassem a escola numa espécie de semana aberta...
De imediato... Marcaram-se datas e planificaram-se actividades...
A ideia era salvar o colégio... Lutar até às últimas consequências por aquela instituição... Tão indispensável e fundamental para os alunos... Já de si... Ostracizados e distantes de todos... Demasiado capital para os pais... Sozinhos desde sempre nessa batalha e cada vez mais desventurados... Necessário para os funcionários... Que dali comiam e davam a comer aos seus...
António Pedro Santos
(Continua)...