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educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

A braços com a Loucura. Ou melhor... Ensaiando

LIX

A ideia de uma semana aberta não partiu do professor... Porém... E após algumas reuniões de funcionários... Foi unânime a sua realização...

De uma forma geral... E colocando de lado algumas divergências... Todos sabiam que o posto de trabalho estava em risco e que era urgente a sua defesa...

Como tal... Mobilizaram-se alguns pais...

Martinha... Júlia e Pedro explicaram-lhes o sucedido... Colocando-os ao corrente da situação... Nomeadamente... As causas que a nova portaria poderia acarretar... Enfim... A maioria não entenderam... Contudo saltaram com sugestões e disponibilizaram-se a ajudar... Com trabalho... Divulgação e outras coisas que fossem necessárias...

Para o professor e talvez para os restantes colegas... Foi um grande exemplo de mobilização e de participação social...

Durante uma semana... Realizaram-se exposições por toda a escola... Fotografias de actividades e alguns trabalhos realizados... Assim como alguma sensibilização para a deficiência e para as suas problemáticas...

Convidaram-se individualidades... Presidente da câmara municipal... Presidente da junta de freguesia... Associações locais e entidades parceiras... Como empresas que já colaboravam com a escola...

Relativamente à direcção regional... O professor teve o cuidado de falar e convidar pessoalmente a doutora Rosa... A tal... Que se armava sempre em sábia... Alguém de inteligência e capacidades superiores... Muito acima da fasquia básica e normal dos restantes seres...

Ainda assim respondeu-lhe ao telefone:

- Olhe... Não sei se vai dar. Tenho muito trabalho!...

Pedro sorriu em jeito depreciativo... Mas insistiu...

A verdade é que acabou por vir... Levando consigo mais duas colegas... Todas elas com cargos de estaque dentro daquele órgão público...

A organização da exposição... Teve o apoio e a cooperação de todos... E a grande maioria trabalhou mais horas que o habitual... Sem sequer reclamar... Pois... Urgia o tempo...

Durante uma semana... Pessoas ilustres e normais... Visitaram o espaço com prazer... Alunos como Carlos... Patrícia  e Samuel... Serviram de guias e mostraram a sua escola... Todavia... Pedro e outros funcionários estavam por perto e também ajudaram a completar com mais informações...

A receptividade e aceitação foram reciprocas... Os visitantes tiveram oportunidade de percorrer as salas e todos os locais de intervenção... No intuito de perceber e conhecer o seu funcionamento...

Houve muita afectividade em relação aos alunos... Muito espanto em relação ao desembaraço de alguns... Houve quem vertesse lágrimas e se sensibilizasse para os problemas com que estes se debatiam diariamente...

Doutora Rosa entrou na sala de estimulação global I e disse:

- Olá bom dia! Como estão? – Naturalmente... Ruben soltou um dos seus grunhidos... Os restantes mantiveram-se alheados como sempre... – Gostam desta escola? – Insistiu... Enfim... Nessa altura... Os olhares de Telma e do professor encontraram-se... Desfrutando do ridículo da situação...

Enquanto isso... Miguel circulava por ali... Apoiando-se na parede...

Singelamente... E por verificar que ninguém lhe passava cartão... Despediu-se com um aceno... Que ninguém viu e saiu dali... Dizendo para Pedro:

- Coitadinhos!... É natural que não me liguem!...

A verdade é que... Com tanta teoria de conceitos e de portarias... Desconhecia a realidade de um aluno multideficiente... Imenso de problemas sensorias e cognitivos... Comunicação e cognição... Ainda assim... Pavoneava-se e auto elegia-se... Sem qualquer vergonha ou pudor...

Na sexta feira... Último dia do certame realizou-se um grande arraial na escola... Começou às seis e foi pela noite dentro... Alguns pais colaboraram na montagem e preparação da festa...

Dividiram-se alunos e funcionários por estações... Ou zonas... A portaria... Com um local para compra de senhas... Uma quermesse... Uma zona de bar com esplanada e uma espécie de palco que não era palco...

Dona Filó fez uma feijoada... Que por acaso estava soberba... Bela e preta trataram dos petiscos... Chouriço assado... Orelha... Tiras de choco... E muito mais... Dora e Irene trataram da sangria e dos caracóis... E as mães apareceram com mais coisas... Designadamente bolos e doces...

A psicóloga e a terapeuta da fala organizaram uma peça de teatro... Ou melhor... Duas... Uma com falas... Onde canalizaram os alunos mais hábeis... E outra com o auxilio de Telma e Martinha... Com alunos mais limitados... Das salas de estimulação global...

Elisa e Saudade também colaboraram e prepararam uma canção... Foi uma surpresa para todos... O professor apreciou a acção e passou a respeitá-las mais...

Pedro mobilizou nos seus novos amigos músicos e ensaiaram algumas canções... Também lá estavam os originais “Ar do mar” e “À procura do sol”...

Carlos tocou baixo e Virgílio bateria... Matias perdeu muito tempo para que o conseguissem... Mas o objectivo foi alcançado...

Samuel improvisou com a flauta e Bebé tocou ferrinhos... Cristina dançava cadenciada e mecânica... Enquanto Ronaldo tocava congas... Teófilo e Roberto cantaram... O calado e o desbocado... Foi um assombro...

Ao longe... Na pequena multidão que delirava... Sónia observava Pedro a tocar guitarra... Gritando:

- Popêee!...

No final... Houve espaço para um baile de concertina... Um rapaz da comunidade que Luz convidara a participar de forma gratuita...

Por falar em Luz... Esta... Estava divina...

Oscilando o corpo ao ritmo da música... De sandálias reluzentes e vestido nutante... Seduzindo Pedro e cruzando com ele olhares de desejo e loucura...

Por outro lado... Leontina estava brutal... Saltos altos pontiagudos e vestido apertado ao corpo... Desafiou Pedro para dançar... Confidenciando-lhe que já tinha bebido um pouco... Nessa altura... O professor puxou-a para si... Sentindo o seu peito farto no seu... E o roçar das suas ancas gingonas na sua pélvis...

Ao longe... Luz dançava elegante e sensual... Contudo... De olhar estranho...

Mais tarde também foi buscar o professor para dançar... Pedro sentiu o seu olhar... Perdido e deveras incomodado... Uma queimação invadiu-lhe o peito ao sentir o odor da sua boca... Mas conseguiu segurar-se...

No final... Dona Filó despediu-se de todos com um poema... Depois com uma frase... Qualquer coisa tipo... “O impossível é quase sempre o que nunca se tentou..”...

Ao despedir-se... Doutora Rosa... Que representava a direcção regional... Ainda disse:

- É de facto uma situação complicada... Mas...  Vamos ver... Desejo-vos boa sorte! – E saiu... Transportando com ela a sua pose burlesca e envergando no rosto... O seu sorriso naturalmente desmaiado...

Quanto a Luz... Acabou por beijá-la mais tarde... Quando... Por entre a confusão do final da festa... Se cruzaram num corredor escuro e sem ninguém... Perto de uma das casas de banho...

Olharam-se e pararam frente a frente... Estáticos e espectantes... Ela... Num movimento subtil de disfarce... Sorriu e avançou... Preparando-se para seguir e sair dali...

Nesse instante... Pedro agarrou-a com força... Tomando-a para si...

Um gemido abafado pelos lábios do professor... Ecoou baixinho... No arfar das respirações... As mãos percorriam os corpos com muita energia... Apagando o tempo que havia de desejo e gastando-o imensamente e com pressa... Nos corpos que se encostavam com a força e a presença de quem queria demais...

Já na casa de banho... De costas voltadas para Pedro... Que a possuía com vontade... Entregou-se silenciosamente... Mordendo-lhe a mão... Que se encontrava na sua boca e impedia a saída de gemidos maiores...

Eram tantos os fluídos quentes que saíam de si... Na magia do orgasmo que os toldou... Ele... Acariciando-se... Luz... Apoiada no lavatório... Exausta e de cuecas a meio das pernas...

Quando Pedro procurou de novo os seus lábios... Esta... Ainda pareceu corresponder... Ou melhor... Evidenciou querer... A verdade é que se afastou e desapareceu dali... Dizendo que havia sido um erro...

Depois dessa noite... Ficou de baixa algumas semanas... Alegando doença... Quando voltou... Fugiu sempre aos encantos e tentativas do professor... Não lhe dando sequer hipóteses de qualquer contacto... A verdade é que... Nunca mais o encarou como dantes...

Com o tempo... Pedro deixou de insistir...

António Pedro Santos

(Continua)...