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educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

educação diferente

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DEFICIÊNCIA

Práticas pedagógicas baseadas na estrutura do desenho universal para aprendizagem

Não há uma receita que possa ser seguida para o ensino de todos os alunos - afinal isso implicaria na homogeneização do ensino e um retorno às práticas tradicionais da educação, caminho contrário à prática dos princípios da inclusão escolar.

Há vários elementos importantes e diversificados que podem ajudar os educadores a elaborarem e conseguirem uma aprendizagem mais eficaz em escolas que pretendem se tornar inclusivas, sendo que tais elementos são encontrados num ensino que se embasa na estrutura proposta pelo DUA.

Para Orsati (2013), o planejamento do ensino para a diversidade implica, em primeiro lugar, aceitar as habilidades, estilos de aprendizados, capacidades e interesses diferenciados existentes dentro da sala de aula. Em segundo lugar, quando esse grupo diverso “não se encaixa no seu plano original” (Orsati, 2013, p. 214), os professores elaboram as adaptações e começam a refletir sobre como reformular sua instrução, daquele momento em diante, para todos os alunos.

A autora supracitada considera que o sucesso da inclusão escolar depende da implementação de vários fatores: (a) envolvimento dos pais; (b) disponibilização de equipe de apoio para professores e funcionários; (c) oferta de um ensino autêntico com diferentes níveis de dificuldades, com adaptações e acomodações; (d) ensino estruturado pelo Desenho Universal para Aprendizagem; (e) construção de uma comunidade na escola e na sala de aula; (f) planejamento do desenho do ambiente educativo, considerando as necessidades físicas, sensoriais e de comunicação dos alunos e (g) a presença de uma equipe democrática na escola.

A autora supracitada aponta, em um estudo sobre acomodações, modificações e práticas efetivas para salas de aulas inclusivas que o acesso de todos ao currículo geral implica na avaliação das necessidades educativas de cada estudante e, no caso de alunos com necessidades mais complexas, é relevante se pensar em um Planejamento Educacional Individualizado (PEI) ou, como Orsati (2013) denomina, um programa individualizado elaborado por toda a equipe escolar (professores, pais, gestores e outros profissionais que atendem o aluno).

Dentro do programa, pensa-se nas possíveis acomodações, nos objetivos de ensino para o aluno e nos suportes que darão acesso a este programa, incluindo materiais, adaptações e suportes individualizados. Entretanto, os estudantes não precisarão o tempo do programa individualizado e do suporte individualizado.

É importante avaliar os momentos em que eles precisam dessas estratégias e os momentos em que aprenderão juntamente com os demais alunos, realizando as mesmas atividades sem acomodações. Os alunos PAEE, por exemplo, podem trabalhar a mesma atividade que os demais alunos respondendo cinco de um total de dez exercícios de matemática (programa individualizado) ou podem usar a calculadora e focar no mesmo objetivo, de modo a responder todos os dez exercícios (suporte individualizado). Tais estratégias estão garantidas quando se pensa em um planejamento de ensino baseado no DUA.

Chtena (2016) aponta outras estratégias que podem ser realizadas quando se pensa em um ensino estruturado de acordo com o DUA. Algumas delas são:

  • O uso da tecnologia: elaborar páginas sobre o conteúdo trabalhado em formato eletrônico acessível. Caso o ensino seja pautado em aulas expositivas, fornecer aos alunos apresentações audiovisuais ou pequenos textos sobre o assunto, porém deixar espaços em branco para que os alunos preencham conceitos-chave, fatos, definições e outras informações que acharem relevantes;
  • Ensino expositivo: caso se utilize de apresentações em slides verificar a formatação e certificar-se de que a apresentação está acessível a todos. Ler as informações em voz alta para garantir uma comunicação eficaz para todos, incluindo aqueles com deficiência visual e alunos sentados atrás de qualquer obstrução. Falar de frente para a turma para permitir aos alunos com deficiência auditiva a leitura dos lábios. Tais recursos incentivará o engajamento e a interação com todos os alunos. Evitar palavras que possam expor os estudantes com deficiência. Em vez disso, falar de uma forma que coloque a pessoa antes da deficiência. Reforçar os aspectos principais usando uma variedade de formatos (por exemplo, verbalmente, graficamente ou através de demonstração) e explicar porque eles são importantes. Utilizar perguntas abertas para verificar a compreensão. Antes de dar a resposta, permitir que os alunos tenham tempo suficiente para formular uma resposta ou fazer uma pausa para que os alunos registrem suas respostas em um pedaço de papel ou dispositivo eletrônico ou que compartilhem respostas com seu colega. Caso utilize vídeos, certificar-se de que eles são legendados ou contêm uma transcrição de texto disponível para alunos com deficiência auditiva e aqueles que não têm compreensão auditiva;
  • Outras atividades em sala de aula: fornecer múltiplos meios para a participação e o envolvimento dos alunos. Por exemplo, incentivar a discussão em sala de aula por meio de atividades em pequenos grupos, encenações sobre o assunto, debates, estudos de caso, artigos de um minuto ou outras atividades que deem aos alunos mais de uma maneira de interagir na aula. Quando possível, oferecer aos alunos oportunidades de tomar decisões sobre sua aprendizagem. Por exemplo, dar-lhes a escolha entre vários tipos de atividade ou dar-lhes a opção de trabalhar sozinho ou em grupos para completar um exercício em sala de aula;
  • Avaliação: utilizar uma variedade de métodos de avaliação (por exemplo, por meio de artigos, jornais de aprendizagem, apresentações, testes, questionários, exames orais) ao longo do semestre para permitir/incentivar várias maneiras de demonstrar o aprendizado. Proporcionar aos alunos a oportunidade de concluir uma tarefa em vários formatos (por exemplo, um artigo, uma encenação, uma apresentação em grupo, entre outros);
  • Suportes adicionais: aproveitar o tempo em que os alunos realizam suas atividades para verificar, regularmente e de forma individualizada, o progresso dos alunos com deficiência e responder às perguntas que possam ter. Acompanhar os alunos que parecem estar com mais dificuldades e incentivá-los a procurar o apoio de outros profissionais de sua escola.

Certamente, essas são apenas algumas sugestões encontradas na literatura sobre DUA para tornar a aula mais acessível a todos, devendo ser avaliada pela equipe quais as estratégias e em que momento as utilizar, de acordo com cada contexto escolar.

Em um estudo de Nunes e Madureira (2015), as autoras apontam a urgência em se pensar práticas pedagógicas inclusivas, de modo a garantir o acesso, a participação e a aprendizagem de todos os alunos.

[...] Garantir o acesso à escola regular constitui a dimensão mais fácil de alcançar no processo de inclusão, pois depende sobretudo de decisões de natureza política. Já assegurar a aprendizagem e o sucesso na aprendizagem envolve mudanças significativas nas formas de conceber a função da escola e o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem. Trata-se, portanto, de equacionar processos pedagógicos inclusivos que permitam o envolvimento efetivo de crianças e jovens com NEE na aprendizagem [...]

Tal necessidade está associada ao aparecimento do conceito Universal Design for Learning (UDL) nos anos 90 [...] (Nunes e Madureira, 2015, p. 7).

Estes são alguns pilares que podem promover uma educação eficaz para todos os alunos, inclusive para alunos PAEE. Portanto, a utilização de uma única estratégia ou a implementação de um serviço exclusivo ou a elaboração de um recurso não exclui a possibilidade das diferentes formas que o ensino possa ser organizado para melhor atender cada estudante.

Alguns alunos poderão necessitar de um apoio individualizado para algumas atividades e para outras não; outros alunos necessitarão de mais tempo para realização de algumas tarefas, outros não. O que não pode acontecer no ensino em turmas inclusivas é a utilização da mesma estratégia sempre ou do mesmo recurso ou do mesmo serviço para todos os alunos, pois é indispensável a avaliação continuada do ensino, da aprendizagem e dos serviços de apoio necessários para cada estudante.

Quanto maiores as possibilidades de se organizar o ensino (acomodações, serviços de apoio, materiais diversificados, trabalho colaborativo de profissionais, DUA, entre outros) mais altas são as chances de participação e aprendizado dos alunos.

Ana Paula Zerbato

In Desenho universal para a aprendizagem como estratégia de inclusão escolar